Acuso a intolerância e recuso a propaganda
Há quem aceite que o embaixador da Ucrânia, em Berlim, insulte o PR alemão e a Sr.ª Merkel, talvez a maior estadista europeia das duas últimas décadas; há quem aprove a arrogância do PR da Ucrânia, a decidir como devem comportar-se os políticos da UE; há quem tolere um dirigente associativo ucraniano a aconselhar a ilegalização de um partido político português; há quem não sinta orgulho em pertencer a um espaço onde não se proíbem partidos e há liberdade de expressão.
A solidariedade com um povo invadido não exige consideração
ou estima pelos seus dirigentes e as divergências não devem dividir os
portugueses nem tornar tóxica uma reflexão sobre a maior tragédia que atingiu a
Europa nos últimos 77 anos.
Não abdicarei da liberdade de tomar posição e de a exprimir,
seja sobre que assunto for, certo de que não terei sempre razão e de que a
verdade obrigatória é suspeita. É por isso que neste meu espaço todas as
posições são e serão permitidas.
Quem tiver paciência para ler um texto que escrevi há cinco
anos poderá ver como sou um adversário dos ditadores e, naturalmente de Putin,
de que alguns me acusam de ser simpatizante. Abrenúncio!
E há, passe a imodéstia, outros motivos de reflexão.
***
França – A segunda volta das eleições presidenciais TEXTO
ESCRITO EM 07-05-2017
Amanhã, dia 8 de maio, assinala-se o 72.º aniversário da
derrota do nazi-fascismo, com a Europa destroçada pela guerra e a lamber as
feridas de utopias nacionalistas e racistas de homens julgados providenciais.
A demência autoritária dos vencidos deixou marcas tão
dolorosas que os partidos do pós-guerra trouxeram na matriz o horror às
ditaduras. Quer os partidos conservadores e democrata-cristãos, quer os
sociais-democratas (também designados por socialistas ou trabalhistas),
cuidaram de expurgar do seu seio os cúmplices do nazismo e do fascismo, ainda
que tenham consentido na Península Ibérica a permanência dos dois ditadores, um
deles o maior genocida da História dos povos peninsulares.
De Gaulle, conservador, nacionalizou os bancos que se
cumpliciaram com as ditaduras, e, mais tarde, diria estar arrependido de não os
ter nacionalizado todos. Até os partidos conservadores viram o perigo de a
política ficar refém do poder económico e financeiro.
O primado da política
foi esmorecendo e apareceram os arrivistas que se reclamavam de apolíticos e/ou
independentes.
A amnésia coletiva permitiu que os demónios ressuscitassem,
que o autoritarismo fosse de novo aceite, que a política esteja hoje à mercê do
poder económico e da concentração da riqueza em cada vez menor número de mãos.
A direita resvala para sua direita e a esquerda segue-a. A
extrema-direita é a opção que aparece como única alternativa. Um presidente, um
governo e um partido podem surgir do desamor à política cultivado pela
comunicação social nas mãos do poder económico
Hoje, em França, Macron, surgido do banco Rothschild e da
efémera passagem por um governo, venceu as eleições presidenciais graças ao
medo de um apelido, de uma praxis e de um reiterado negacionismo do Holocausto.
Ao medo dos franceses devemos este alívio que ora sentimos, mas não é saudável
que alguém sem passado, sem jamais se ter submetido ao escrutínio popular,
possa ter saído vencedor de umas eleições e possa ser o criador de um novo e
promissor partido, sem ideologia.
Obrigado, Macron. Todos os democratas europeus quiseram essa
vitória. Apenas Putin e Trump preferiam Marine le Pen. Pior do que a
fragilidade da democracia que o levou ao poder é a dimensão dos votos
antidemocráticos que sufragaram a extrema-direita.
Com a perigosa abstenção de ¼ dos franceses, a provável
votação de 65% em Macron, deixa para a extrema-direita mais de 1 em cada 3
franceses e a certeza de que foi o mal menor a decidir alguns.
Por ora, mantemos a esperança, mas cresce o receio do
futuro. Veremos o que acontece em junho.
Desenho: El Roto (El País) – Viñeta de EL Roto de 7 de maio de 2014
Comentários
Mas a Ucrânia tem direito à sua legítima defesa e defender a Paz angelicamente e genericamente não é mais do que defender os interesses da Rússia. A Paz, qualquer ela que seja, só pode ser um Paz honrosa que nasça de negociações e não de uma capitulação da Ucrânia. E isso dependerá crucialmente da situação militar no terreno.
O pacifista, como dizia Churchill, é aquele que alimenta um crocodilo esperando ser o último a ser comido. Acaso sobra alguma honra a Putin para que possamos confiar nele, depois de tantas e tantas mentiras? O homem só entende a linguagem da força e só negociará a sério se perceber que tem mais a perder do que a ganhar com a continuação da guerra.
Até parece que foi a NATO que começou este conflito. Não foi, foi a Rússia...
Claro, há já quem defenda que se deve enfraquecer a Rússia combatendo-a até ao último ucraniano. O que se deve antes dizer é que cabe à Ucrânia e só a ela decidir quando parar de lutar e que acordo de Paz aceitar, mas até ela o fazer, retirar-lhe o apoio seria uma cobardia...
Não subscrevo o seu comentário e não me sinto atingido pela sua posição.
A guerra começou em 2014 com o golpe de estado, organizado pelos "camones" com recurso a estes facínoras, que derrubou o governo democraticamente eleito da Ucrânia. Desde essa data, a guerra foi sempre em crescendo, com a eliminação dos pró-russos e perseguição aos russófonos, a ilegalização de partidos políticos exceto os da extrema-dreita e a tentativa de extermínio das populações russófonas da região do Donbass, que terá provocado pelo menos 14.000 vítimas. Entretanto os EUA/NATO foram transformando a Ucrânia numa plataforma de guerra e de provocação, armada até aos dentes.
Bastaria que os líderes europeus que coassinaram os acordos de Minsk tivessem obrigado esta gentalha a cumpri-los para que os russos não tivessem invadido.
A invasão russa iniciada em 24 de fevereiro, representou um salto qualitativo nesta guerra. Mas ela também estava prevista nos planos dos "camones", que incluía a estratégia de "picar a mula até ela dar o coice". O segundo salto qualitativo foi a aprovação pelo senado dos "camones", há poucos dias atrás, de uma espécie de novo "Lend-Lease Act" de 33 mil milhões!... para abastecer de armamento, sofisticado e em grande quantidade, os que fazem a guerra aos russos em seu nome. Uma verba fabulosa, destinada a incendiar a Europa, para deleite dos industriais da morte - os oligarcas do poderoso complexo militar industrial americano.
A estratégia dos "camones", elaborada pelo "think tank", RAND Corpration, e pelas suas agências especializadas em espionagem e subversão, tem tido um êxito extraordinário, até agora: - Para além da venda de armas em grande escala, quer aos ucranianos, quer à carneirada europeia, obrigada a investir fortemente no rearmamento, em prejuízo do setor social, já conseguiram inviabilizar o "Nord Stream 2" e substiruíram os fornecimentos de gás russo pelo seu merdado gás de xisto, muitíssimo mais caro; estão a impedir o fornecimento de petróleo e de quaisquer outras matérias primas provenientes da Rússia, importantes para a Europa; baniram os russos da Europa a que pertencem, e do seu mundo ocidental, dito "civilizado", incluindo a sua riquíssima cultura e até o seu desporto; colocaram os servis europeus de joelhos e na sua total dependência.
E continuarão a "picar a mula", até fazerem com a Federação Russa o que fizeram com a Federação Jugoslava. Resta saber se, até lá, não nos atirarão a todos para o holocausto nuclear. O risco é de grau extremo, e podemos estar a viver os últimos momentos do mundo tal como o conhecemos até agora.
Se denunciar isto é ser putinista... vou ali e já venho.
Enfim, desculpas de um poder imperialista que mostra bem que a mais das vezes o opositor de um imperialista é simplesmente outro imperialista, cuja natureza os defensores dessa Paz angélica de que eu falava recusam reconhecer.
Espera-se naturalmente que o Povo Português, que os vê inclusive atacar associações de emigrantes ucranianos e armarem-se em vítimas (não o são) lhes saiba dar a resposta adequada nas urnas...