Bernini, Teresa de Ávila e Jorge de Sena

Há na estátua da santa, que ornamenta uma das capelas da igreja de Santa Maria della Vittoria, em Roma, a glorificação do génio de Bernini, a feliz simbiose do sagrado e do profano, captada pelo artista nas visões da freira – O “Êxtase de Santa Tereza”.

Ali, em mármore e bronze, na paixão que a devora, explodem hormonas de uma visão mística que a santa frui, com o corpo sôfrego e em chama, trespassada repetidamente no coração pela ponta inflamada de uma lança dourada de um serafim.

A inefável dor espiritual e corporal foi captada por Bernini na apoteose dos sentidos e esculpida na beleza exuberante do barroco.

Ali, em meados do século XVII, a mulher e mística, freira devorada pela fé, encontrou no génio de Bernini o esplendor da forma que imortalizou e deu vida ao corpo sôfrego e à alma em chama no êxtase de uma visão que a própria descreveu com notável paixão e beleza.

Também Jorge de Sena, arrebatado pela exuberância do escultor na glorificação da fé no corpo esculpido em mármore, explodiu em versos:

Piazza Navona e Bernini

Palácios com aquele ar que em Roma
descasca de velhice o mais moderno prédio.
E a fonte de Bernini. Essa água toda
de que ele tinha em Roma o monopólio.

Mas noutra parte a colunata ascende.
E Santa Teresa, ante a seta do anjo,
vem-se de penetrada em voo de pintelhos
que o hábito lhe roçam esvoaçante
num pélvico bater que a estoura de infinito.

 

Jorge de Sena

Chambéry, 27/7/1971

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