O PR e a audiência ao líder do partido fascista

Um módico de contenção, alguma acalmia na frenética exibição mediática, é o mínimo que se exige a quem tem como principal obrigação garantir o regular funcionamento das instituições democráticas.

O PR não pode aparecer em todos os noticiários de todos os canais televisivos, emissões de rádio e primeiras páginas dos jornais, como comentador convidado permanente sobre vacinas, incêndios, guerras, cartas de bispos, decisões do Governo, queixas de cidadãos, empresários, sindicatos, líderes partidários, política externa, milagres de Fátima, táticas de futebol e desempenhos ministeriais.

Ainda não vi qualquer crítica à audiência ao líder do partido fascista que usou a AR para defender posições criminosas à luz da Constituição e solicitou audiência ao PR para lhe pedir que admoestasse o presidente da AR por ter defendido a CRP na sequência de diatribes suas, xenófobas e racistas, contra imigrantes, pretexto aproveitado para fazer no Parlamento uma cena intolerável, após afirmações que, sem o estatuto de deputado, eram passíveis de sanções criminais.

A legitimidade do partido fascista, depois de aceite pelo Tribunal Constitucional, não se contesta, resulta do voto popular como a dos outros partidos. O que se torna inesperada é a facilidade com que o PR recebe o líder, sabendo que daria azo à gritaria arruaceira e à ameaça de subversão da ordem no Parlamento, instituição que seria de partido único se ele fosse poder.

Foi penoso e assustador assistir à exibição grotesca do marginal, à saída da audiência com o PR, a ameaçar com piruetas histriónicas a tranquilidade democrática no coração da democracia.

O neofascista sabe que o PR não tem poderes que lhe permitam admoestar a segunda figura do Estado, mas para o marginal incendiário foi pretexto, à saída da audiência, a ameaçar a AR, para imitar Trump a incitar o assalto ao Capitólio.

Marcelo já devia ter aprendido a ser cauto, com as três desconsiderações de Bolsonaro, duas de Cavaco e uma de Alberto João Jardim, a não se imiscuir onde não deve. Aliás, o mau gosto da audiência a Paulo Rangel na véspera da disputa da liderança a Rui Rio, foi a preferência infeliz que manifestou, à semelhança de um recado que encomendou ao comandante da PSP, Magina da Silva, sobre a reorganização das polícias, como se não lhe bastasse Marques Mendes como seu alter ego.

Só lhe faltava tomar as dores do patriarca Clemente na defesa das comprometedoras declarações sobre um crime que ocultou. Mas fê-lo. Gratuitamente, como a leviandade com que lhe beija publicamente a mão, esquecendo que é PR de um país laico.  

A audiência ao líder neofascista foi um péssimo serviço à democracia, um pretexto para a escalada do populismo de quem não hesita em apropriar-se da superstição de Fátima para a promoção pessoal e do seu perigoso ideário.

Marcelo criará condições para a direita ser poder, mas vai acabar mal o mandato.


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