Há 52 anos – A morte de Salazar
Com o cheiro a santidade, odor próprio dos cadáveres adiados, faleceu no dia de hoje o mais longevo ditador da Europa do século XX.
Privou-o a graça divina de assistir ao 25 de Abril que
merecia desde o primeiro dia da ditadura. Não lhe faltaram o conforto dos
sacramentos, as exéquias pias, as carpideiras habituais, a força pública e o
público à força para o homenagearem.
Não lhe faltou em vida a cumplicidade do clero nem, na morte,
a presença, e o conforto dos sacramentos quando o cérebro já migrara.
Viveu enquanto foi pernicioso e morreu quando já era
inofensivo.
***
«Se este homem insubstituível franze o sobrolho
Dois reinos
periclitam
Se este homem
insubstituível morre
O mundo inteiro se
aflige como a mãe sem leite para o filho
Se este homem
insubstituível ressuscitasse ao oitavo dia
Não acharia em todo
o império uma vaga de porteiro.»
(Bertold Brecht)
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