Eu e os leitores

Os leitores, sei que os tenho, não esperam de mim que escreva o que gostariam de ler. Aliás, seria difícil satisfazê-los a todos, tão diversos nas suas convicções e diferentes nas suas idiossincrasias. Hão de tolerar o que penso ou, como fizeram alguns amigos pessoais, deixar de frequentar este blogue para não saírem feridos com a forma e a substância dos meus textos.

Nunca renunciei aos afetos de quem estimei, mas não posso prender à arreata os amigos que se sentem feridos por quem nunca pautou a amizade pela proximidade ideológica ou coincidência de opiniões.

Estamos a atravessar um período de especial intolerância, do êxito da propaganda sobre os factos e do triunfo das emoções sobre a razão.

Quem viveu anos suficientes num país de pensamento único, quem assiste desolado às sucessivas vitórias eleitorais de líderes autoritários e indiferentes aos direitos humanos, sente a amargura de ver as democracias europeias cada vez mais vulneráveis e cada vez menos estimadas, à medida que as ditaduras avançam no mundo.

Quando se começam a queimar livros, acaba-se a queimar pessoas; quando prevalecem as crenças, dilui-se a razão; quando se organizam perseguições ideológicas é a liberdade que se assassina.

Se cada um de nós fizer esforço para compreender os outros talvez se atrase a vertigem maniqueísta que divide a Humanidade em bons e maus.

Pessoalmente, tendo como arma apenas a palavra, não deixarei de defender o que julgo justo e o direito à expressão de opiniões contrárias.  

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