Rui Moreira e a censura

Rui Moreira vai fazer um compasso de espera para remover a estátua de Camilo. Se este homúnculo político não cair pelo ridículo passará de figura regional a figurão nacional.

O edil do Porto não é um príncipe renascentista, é o reacionário saído da alta burguesia portuense, um fidalgote que cultiva negócios familiares e ambições políticas pessoais nos meios mais tradicionalistas.

A sua sanha contra a nudez dos amores de Camilo é a de um populista sem sensibilidade para tolerar a nudez. A invocação do gosto é a desculpa da vocação censória, o pretexto de todos os censores, de Sousa Lara a Torquemada, de Carlos Moedas a Rui Moreira.

A obsessão de dar o nome de um obscuro bispo do Porto à 7.ª ponte sobre o rio Douro, a ligar as duas margens, em conluio com o edil de Gaia, revela a sua natureza.

Não cabendo as ambições nos palcos minoritários do seu integralismo monárquico, quis fazer do Porto liberal, do berço do 31 de janeiro, a sacristia onde plantou as ambições.

O problema não é do Porto, é do País. Em Lisboa o edil Moedas, para agradar aos meios reacionários da Igreja católica, quis remover o pirilau do Cutileiro, primeiro e dar, depois, o nome do bispo aposentado à ponte pedonal sobre o rio Trancão.

Se deixarem Rui Moreira à solta na insensatez beata contra a memória de Camilo, fica em perigo a Virtude que acompanha Eça em Lisboa.

Hoje é a escultura de Francisco Simões a ser removida no Porto, amanhã será a cópia da de Teixeira Lopes  que, para evitar os ataques de vandalismo dos ora eleitores de Moedas, foi substituída por uma cópia em tempos de melhor edil, em 2001.

Rui Moreira, para justificar a pulsão censória, há de fazer referência aos comunistas que integraram o grupo dos 37 “cidadãos ilustres” com o conselheiro de Estado escolhido por Marcelo, Lobo Xavier.

Em questões de pudicícia os dirigentes do PCP são elevados a “cidadãos ilustres”.