As eleições francesas e a leitura dos seus resultados

A vitória de Jean-Luc Mélenchon sobre os outros candidatos antifascistas é evidente e, no quadro parlamentar francês, devia levar à indigitação óbvia, mas o PR francês dispõe de amplos poderes e não é provável que a acolha.

A constituição francesa é, de facto, semipresidencial, sendo a parte mais forte o PR, com poderes próprios na política externa, Forças Armadas e outras áreas, ao contrário do PR português que, com exceção da livre dissolução da AR, é apenas o garante do regular funcionamento das instituições, obrigação de que se exonerou para passar a perturbador.

Tendo Emmanuel Macron uma bancada parlamentar significativa, a servir de charneira, apesar da colossal derrota que sofreu, só aceita Mélanchon se quiser. E não quer. O que tem de ser tem muita força e, até 2027, o seu mandato é legítimo.

Se as eleições tivessem sido apenas entre democratas, Macron era obrigado a aceitar que Mélanchon presidisse ao Governo. Assim, não. Vejamos a correlação de forças:

A extrema-direita ficou em 3.º lugar, mas tem o partido mais votado; a esquerda unida ficou em primeiro, mas os seus maiores partidos têm os 3.º e o 4.º grupo parlamentar; a direita tradicional aguentou-se e é largamente maioritária (direita liberal + a fascista).

Deixo um gráfico para que os meus leitores tirem ilações e reflitam na perigosidade dos círculos uninominais, dado que favorecem maiorias absolutas, mas pervertem a proporcionalidade.

Entretanto, assisto à diabolização de Jean-Luc Mélenchon no espaço mediático luso, nos jornais e nos pasquins, nas televisões e nas redes sociais numa chantagem feroz e aviso ao PS na tentativa de lhe dizerem, social-democracia sim, se for neoliberal, de for igual à da direita, apenas com gente mais teimosamente democrática. Resta-me a consolação de ver o PS francês fiel à aliança que levou à luta contra o neoliberalismo. Até quando!?


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