XXIV Governo Constitucional – Debate do programa do Governo #montenegronaomarcelonunca

Não sei o que é pior, ver Pacheco de Amorim a presidir à Assembleia da República ou o primeiro-ministro a pôr em causa a sua legitimidade.

Do primeiro calo o nojo, do segundo sinto medo. Ouvi Luís Montenegro a referir-se ao governo que cerca de 60% dos deputados sufragaram, nestes termos: «em 2015 o PS usurpou o Governo que ia na direção certa», referindo-se a um dos melhores governos de sempre, o governo do PS com apoio parlamentar do PCP e BE.

A pulsão totalitária de quem considera usurpação a substituição de um governo com apoio de 40% dos deputados por outro apoiado por 60% levou-o a depreciar o Parlamento e a desrespeitar a democracia.

O exemplo da França devia servir de vacina, onde o centro destruiu a esquerda e fez crescer a extrema-direita. A enorme recuperação da esquerda nas legislativas já se esfumou com a reeleição de Yaël Braun-Pivet, candidata macronista apoiada pela direita e extrema-direita contra o rival André Chassaigne apoiado por toda a esquerda. Montenegro pode não saber governar, mas sabe que, em Portugal como em França, o centro, a direita e a extrema-direita acabarão sempre a unir-se contra a esquerda.

O apoio do Chega ao atual Governo é legítimo, a direita tem larga maioria na AR, o que não é aceitável é ser a esquerda a apoiar quem a quer destruir.

O PS tem, e sempre teve, neoliberais, para quem a social-democracia é apenas uma cedência para a conquista do poder. Se for essa a vontade do PS tem todo o direito de a satisfazer, mas dificilmente contará com quem se revê na social-democracia e, muito menos, com os socialistas ou comunistas.

A doentia deriva neoliberal de que o banquete fiscal às empresas e a generosa oferta aos mais ricos de reduções do IRS ou o descabelado bónus em função da idade não podem ter a cobertura de quem vai fazer recair sobre todos o pagamento dos benefícios que reservou para os que menos precisam.

Marcelo e Montenegro, sabendo do cansaço do eleitorado, esforçam-se por repetir contra o PS a chantagem que fizeram Cavaco e Passos Coelho.

A situação política trouxe-me à memória um delicioso conto de Mário Sacramento, O Boi Ápis, em que a mãe vaca diz ao filho, Meu filho não queiras ser Ápis. Certamente, Pedro Nuno Santos não quererá ser Tó Zé Seguro.

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