As eleições francesas e as televisões portuguesas
Perante a travagem brusca do avanço da extrema-direita francesa e da colossal derrota das sondagens e das expetativas, as televisões portuguesas cedo deixaram de assinalar a derrota dos fascistas para esquecerem a grande mobilização do eleitorado e a vitória das forças democráticas francesas.
Depois da estupefação com a resistência do eleitorado à
avassaladora onda fascista que percorre a Europa substituíram a pedagogia
democrática pela diabolização do principal vencedor do campo democrático, Jean-Luc
Mélenchon.
Incapazes de refletirem sobre as potencialidades da aliança organizada,
em poucos dias, contra o neoliberalismo de Emmanuel Macron, passaram a designar
Mélenchon como extremista e a dar o máximo relevo aos marginais que há muito usam
todos os pretextos para destruírem nas ruas tudo o que encontram. Pior, passaram
longos diretos dos desacatos associando os marginais aos partidos vencedores.
Independentemente do governo que em França suceder ao atual,
a pressa em qualificar de extrema-esquerda o campo que derrotou a
extrema-direita e Macron é a habitual postura dos extremistas, agora do Chega e
IL, em Portugal. O PSD/CDS, ao contrário dos franceses, não manifestou o mesmo
alívio que os partidários de Macron em França, o que é preocupante. A AD parece
refém dos partidos extremistas que gerou no seu seio.
Voltarei à análise da correlação de forças em França, mas,
desde já, é urgente denunciar a tentativa portuguesa de apagar a derrota de
Macron que a AD representa em Portugal. Pode ser que o resultado das eleições
francesas iniba o governo português de provocar eleições sob chantagem ao PS.
O truque, tal como em França, pode custar-lhes uma derrota.
Os portugueses sabem que todos os líderes do PS foram acoimados de extremistas
de esquerda antes das eleições e depois de serem Governo. Até Guterres era definido
como peixinho vermelho numa pia de água benta e, ainda agora, o não acompanham
nos esforços de paz.
Para já, deixem-me respirar de alívio com a derrota de Marine Le Pen em França, e com as cambalhotas e a deceção do 4.º pastorinho em Portugal.
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