Momento de poesia

Enquanto aguardamos os resultados das eleições francesas trago aqui, mais uma vez, Carlos Drummond de Andrade, um dos meus poetas preferidos, e um belo poema seu.

Lido, relido e fruído, aqui se repete. É uma forma de atrair leitores para o grande poeta da língua portuguesa e um dos maiores do século XX. Aqui fica:

Poema erótico de Drummond de Andrade 

«Satânico é meu pensamento a teu respeito,

e ardente é o meu desejo de apertar-te em minha mão,

numa sede de vingança incontestável

pelo que me fizeste ontem.

 

A noite era quente e calma

e eu estava em minha cama,

quando, sorrateiramente, te aproximaste.

Encostaste o teu corpo sem roupa

no meu corpo nu,

sem o mínimo pudor!

 

Percebendo minha aparente indiferença,

aconchegaste-te a mim

e mordeste-me sem escrúpulos.

Até nos mais íntimos lugares...

Eu adormeci.

 

Hoje, quando acordei, procurei-te

numa ânsia ardente, mas em vão.

Deixaste em meu corpo e no lençol

provas irrefutáveis do que entre nós ocorreu durante a noite.

 

Esta noite recolho-me mais cedo,

para na mesma cama te esperar.

 

Quando chegares,

quero te agarrar com avidez e força.

Quero te apertar com todas as forças

de minhas mãos.

 

Só descansarei quando vir sair o sangue quente do teu corpo.

Só assim, livrar-me-ei de ti,

mosquito Filho da Puta!»


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