Do Dário da Diana – 12 anos – escola C+S da Musgueira:
O meu pai ficou eufórico com a posse do Dr. Trump. Nesse dia não trabalhou. Esteve a ver TV. E ainda não voltou a bater na minha mãe! Viu o Dr. Elon Musk, Dr. Zuckerberg e Dr. Bezos, e disse que não são como os políticos portugueses, que enriquecem à nossa custa, esses já são ricos e só querem fazer a América grande outra vez.
Gostou muito de ver o Dr. Musk a saltar e, quando o viu a levar a mão ao coração e a erguer o braço, o meu pai, eufórico, levantou-se da mesa, imitou-o, partiu um copo, e gritou «ail, André!!». Já fui ver o que quer dizer ail ou hail, e não vem no Google. Não perguntei à professora porque a minha mãe diz para não repetir o que oiço em casa.
O Dr. Trump perdoou a 1500 patriotas presos por quererem a América grande outra vez. Gostavam tanto do seu presidente que tiveram de matar polícias. Não é como o do Dr. Biden que perdoou à família e aos amigos. Eu sou criança, e penso que os presidentes americanos são bondosos e só desejam perdoar.
Riu-se muito quando o Dr. Trump não beijou a mulher porque empancou no chapéu. Depois, quando o meu pai foi comemorar a vitória do Dr. Trump, com amigos, a minha mãe disse que a mulher Trump devia usar um chapéu com arame farpado à volta, mas não sei o que quis dizer com isso. Penso que a minha mãe odeia os amigos do meu pai.
Ele disse que se fosse americano ia ser dono do táxi e depois de uma frota. Em Portugal é uma porcaria por causa dos paquistaneses que lhe roubam os fregueses e que só serão expulsos quando o André limpar Portugal.
Os jornalistas são maçons e comunistas, só dizem mal dos deputados do Chega: do Dr. Pacheco Amorim porque o grupo dele matou um padre para nos salvar do comunismo; do que bate na mulher, se bate é porque merece, pois; do que tirou dinheiro da caixa de esmolas da igreja para não ir parar às mãos do padre; do Dr. Miguel Arruda, amigo do preso político Dr. Mário Machado, por levar uma mala do aeroporto, não compreendem que um brilhante académico açoriano pode ser distraído.
Bem, vou fazer os deveres. Amanhã volto a escrever o que o meu pai diz porque ele diz uma coisa hoje e outra amanhã, e eu não lhe posso dizer isso porque me bate.
Musgueira, 23 de janeiro. Diana.
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