O congresso do CDS
Um partido residual, onde se albergam liberais, democrata-cristãos e conservadores e se acobertam os que não são cristãos, nem democratas, nem liberais, dividiu-se ontem entre o vencedor antecipado, Telmo Correia, e o vencedor surpresa, Ribeiro e Castro.
Enquanto Paulo Portas tirou féria sabáticas para preparar um regresso, que pode levar anos, e um projecto de alteração de regime para aparecer como o D. Sebastião de um Governo autoritário e vagamente reaccionário, os congressistas confiaram ao eurodeputado Ribeiro e Castro a regência do CDS e a tarefa de o conduzir nas derrotas que se avizinham.
Paulo Portas assumiu a postura de Estado e denunciou a deserção de Durão Barroso para Bruxelas como o fim do «contrato de confiança com o eleitorado» numa confissão da legitimidade política com que Jorge Sampaio provocou eleições, sem nunca admitir o descalabro da governação de que a coligação de que fez parte foi responsável. Curiosamente não responsabilizou Santana Lopes pelo desastre, um sinal de que precisa no PSD de quem, não tendo ideias, seja conveniente para o projecto que acalenta.
Não faltou ao conclave o ar beato e as referências religiosas. O CDS/PP é um partido velho que serviu para reciclar salazaristas sob a égide de Freitas do Amaral e de Lucas Pires mas que acabou seduzido pelo passado a fechar o espaço dos que quiseram transformá-lo num partido conservador europeu de matriz democrática e indiscutível ruptura com o passado.
A data da convocação do congresso, com a eleição de Ribeiro e Castro (seria igual com Telmo Correia) no dia 24 de Abril, é uma metáfora do programa e da ideologia que anima o pessoal político do partido mais à direita com representação parlamentar em Portugal.
Há 31 anos, o dia de hoje foi o último da ditadura. O CDS ainda não era necessáro. Este congresso, além de um conclave partidário, foi uma romagem de saudade.
Carlos Esperança
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