Momento de poesia




Deixa-me cá, no meu mundo…
Não agites o charco, cujo lodo,
Repousa todo
No fundo.

Deixa-me cá, sozinho, embevecido
Na euforia estranha,
De ser pinheiro a esbracejar, erguido
No cimo da montanha.

Deixa-me cá, fumando vagamente
E olhando como o fumo se dilui…
Imagem do presente,
Símbolo do que eu sou e do que eu fui.

Deixa-me cá, comigo e só comigo,
A exumar relíquias do passado,
Como quem tira um corpo mutilado
Do fundo de um jazigo.

Quero ser só, humildemente só,
Como esse tal pinheiro milenário,
Que se ergue, solitário,
A alimentar-se de cascalho e pó.

Quero gozar o luxo fascinante,
De ser eu e só Eu.
Poeta mudo e distante,
De versos que ainda ninguém leu.

Armando Moradas Ferreira

Comentários

ana disse…
Que óptimo poeta, tão profundo e tão simples. Só o conheci aqui, vou procurar a obra.
Anónimo disse…
Na realidade, trata-se de um bom poeta. Mas, não vale a pena à Ana, que eu conheço bem, tentar seduzi-lo, pois ele já morreu há uns anos. Também a sua obra não se encontra publicada, infelizmente.
ana disse…
Ó anónimo, eu sei bem, pelo que aqui tenho lido de Moradas Ferreira, que ele já morreu.Por que razão eu haveria de tentar seduzi-lo, é que não percebo. E que o anónimo me conheça, bem ou mal, é altamente duvidoso. Enfim, se o comentário fosse de um homem passaria despercebido, mas como fui eu a fazê-lo, tinha de levar uma alfinetada.É que isto de ser mulher é (ainda) uma factura que se paga até à morte.
Anónimo disse…
Peço desculpa à Ana pelo desastrado comentário que proferi. Tratou-se de um equívoco meu que não pretendia atingi-la a si.São outras contas de outros rosários, que agora não são para aqui chamados.
Continue com a sua colaboração.
ana disse…
Está esclarecido, anónimo.
Nada como a palavra atempada para pôr tudo no seu devido lugar.
Cump.
Anónimo disse…
Para a Ana, que eu não conheço, mas não assina de cruz, anonimamente:
Não procure o Em Verso, de Moradas Ferreira, donde este e outros poemas foram e serão extraídos para o Ponte Europa. Uma pequenina parte da obra de Moradas Ferreira, foi editada com este título, numa edição muito restrita, não comercializável. Quanto ao (grande) restante da obra, que é vasta, a ver vamos, como diria o outro.
Luís Veiga

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