Momento de poesia
Só
Deixa-me cá, no meu mundo…
Não agites o charco, cujo lodo,
Repousa todo
No fundo.
Deixa-me cá, sozinho, embevecido
Na euforia estranha,
De ser pinheiro a esbracejar, erguido
No cimo da montanha.
Deixa-me cá, fumando vagamente
E olhando como o fumo se dilui…
Imagem do presente,
Símbolo do que eu sou e do que eu fui.
Deixa-me cá, comigo e só comigo,
A exumar relíquias do passado,
Como quem tira um corpo mutilado
Do fundo de um jazigo.
Quero ser só, humildemente só,
Como esse tal pinheiro milenário,
Que se ergue, solitário,
A alimentar-se de cascalho e pó.
Quero gozar o luxo fascinante,
De ser eu e só Eu.
Poeta mudo e distante,
De versos que ainda ninguém leu.
Armando Moradas Ferreira
Comentários
Continue com a sua colaboração.
Nada como a palavra atempada para pôr tudo no seu devido lugar.
Cump.
Não procure o Em Verso, de Moradas Ferreira, donde este e outros poemas foram e serão extraídos para o Ponte Europa. Uma pequenina parte da obra de Moradas Ferreira, foi editada com este título, numa edição muito restrita, não comercializável. Quanto ao (grande) restante da obra, que é vasta, a ver vamos, como diria o outro.
Luís Veiga