Filhos dilectos do Vaticano (2)
Por
E - Pá
Bento XVI, não é um chefe religioso amorfo. Mantêm uma liderança da Igreja em vários campos da sociedade civil – pena de morte, moral sexual, política de família e, no caso presente, na bioética - não abdicando de intervir decisivamente na sua condução.Para a lidar com estas políticas tem, como os toureiros – passe a comparação – os seus peões de brega.
Os Prof.s Daniel Serrão, Walter Osswald e Jorge Biscaia são figuras eminentes do nosso meio científico e eméritos académicos.
Com um “pequeno” problema. Aquilo que, popularmente, se chama um “senão”. Isto é, a ausência de isenção pessoal, dados os seus conflitos de interesses em relação às determinações religiosas oriundas do Vaticano, como bulas, cartas pastorais, encíclicas, etc. que, moralmente, os vinculam.
A introdução da Bioética em Portugal entrou por um caminho cheio de escolhos, na sua esmagadora maioria, colocados pela Igreja.Basta não esquecer toda a polémica – sustentada pelo Vaticano e adoptadas pelas personalidades a condecorar – à volta das células estaminais e dos embriões in vitro, entre outras “condenações”.
Tendo entrado por estes caminhos onde encontrou o Sr. PR relevantes contributos para um reconhecimento público?
Neste campo, porque excluiu o PR o Prof. Alexandre Quintanilha que tem trabalhos relevantes nesta área?
Lembro-me de um escrito em que o Prof. Quintanilha, glosando com a lógica da Igreja quanto a descobertas científicas e suas aplicações, se interrogava: porque não proibir a produção de energia eléctrica em alguns países (poucos) onde ainda se utilizam a “cadeira eléctrica para aplicar a pena de morte? (*)
Mas os tempos são de perseguição e de honrarias aos executores. Na Igreja sempre foi assim. Copérnico (Senhor Presidente estou a falar da mesma pessoa que distorceu o nome…) foi perseguido, tal como Galileu, pelas suas descobertas sobre o sistema solar. A "sua" Ciência chocava com os dogmas da Igreja.
Esta condecoração de Cavaco e Silva dirige-se, subtilmente, a todos os cidadãos que nos últimos tempos têm defendido e agitado questões relativas ao laicismo do Estado.
Visa, em minha opinião, condicionar grandes questões que vão entrar na agenda política e social da próxima legislatura, como p. ex., a eutanásia.
A Igreja nunca deixou de imiscuir-se nos assuntos de Estado e o seu objectivo é o triunfo da Fé sobre a Razão Científica.
Por isso não me espantou - apesar de toda a polémica - que tenha sido vedada a sua entrada e vetada a sua prelecção na Universidade La Sapienza em Roma. Não sendo importante - foi um incidente - a ICAR deveria ter dissecado as razões desta atitude oriunda da mais prestigiada Universidade romana. Algo está a mudar.
Contudo, para os defensores do Estado laico, não é crucial o que aconteceu em 1633, nem em La Sapienza, mas as questões bioéticas que as enormes capacidades científicas que a Biologia Moderna detém no seu seio, está a desenvolver (felizmente!), e nos vai colocar à frente dos olhos, num futuro próximo.
(*) Era a época em que a "cadeira eléctrica" ainda não tinha sido banida, por provocar mortes horrorosas...completamente violadoras da dignidade do condenado.
E - Pá
SOBRE O ESTADO, A IGREJA, OS EMÉRITOS E O LAICISMO
Bento XVI, não é um chefe religioso amorfo. Mantêm uma liderança da Igreja em vários campos da sociedade civil – pena de morte, moral sexual, política de família e, no caso presente, na bioética - não abdicando de intervir decisivamente na sua condução.Para a lidar com estas políticas tem, como os toureiros – passe a comparação – os seus peões de brega.
Os Prof.s Daniel Serrão, Walter Osswald e Jorge Biscaia são figuras eminentes do nosso meio científico e eméritos académicos.
Com um “pequeno” problema. Aquilo que, popularmente, se chama um “senão”. Isto é, a ausência de isenção pessoal, dados os seus conflitos de interesses em relação às determinações religiosas oriundas do Vaticano, como bulas, cartas pastorais, encíclicas, etc. que, moralmente, os vinculam.
A introdução da Bioética em Portugal entrou por um caminho cheio de escolhos, na sua esmagadora maioria, colocados pela Igreja.Basta não esquecer toda a polémica – sustentada pelo Vaticano e adoptadas pelas personalidades a condecorar – à volta das células estaminais e dos embriões in vitro, entre outras “condenações”.
Tendo entrado por estes caminhos onde encontrou o Sr. PR relevantes contributos para um reconhecimento público?
Neste campo, porque excluiu o PR o Prof. Alexandre Quintanilha que tem trabalhos relevantes nesta área?
Lembro-me de um escrito em que o Prof. Quintanilha, glosando com a lógica da Igreja quanto a descobertas científicas e suas aplicações, se interrogava: porque não proibir a produção de energia eléctrica em alguns países (poucos) onde ainda se utilizam a “cadeira eléctrica para aplicar a pena de morte? (*)
Mas os tempos são de perseguição e de honrarias aos executores. Na Igreja sempre foi assim. Copérnico (Senhor Presidente estou a falar da mesma pessoa que distorceu o nome…) foi perseguido, tal como Galileu, pelas suas descobertas sobre o sistema solar. A "sua" Ciência chocava com os dogmas da Igreja.
Esta condecoração de Cavaco e Silva dirige-se, subtilmente, a todos os cidadãos que nos últimos tempos têm defendido e agitado questões relativas ao laicismo do Estado.
Visa, em minha opinião, condicionar grandes questões que vão entrar na agenda política e social da próxima legislatura, como p. ex., a eutanásia.
A Igreja nunca deixou de imiscuir-se nos assuntos de Estado e o seu objectivo é o triunfo da Fé sobre a Razão Científica.
Por isso não me espantou - apesar de toda a polémica - que tenha sido vedada a sua entrada e vetada a sua prelecção na Universidade La Sapienza em Roma. Não sendo importante - foi um incidente - a ICAR deveria ter dissecado as razões desta atitude oriunda da mais prestigiada Universidade romana. Algo está a mudar.
Contudo, para os defensores do Estado laico, não é crucial o que aconteceu em 1633, nem em La Sapienza, mas as questões bioéticas que as enormes capacidades científicas que a Biologia Moderna detém no seu seio, está a desenvolver (felizmente!), e nos vai colocar à frente dos olhos, num futuro próximo.
(*) Era a época em que a "cadeira eléctrica" ainda não tinha sido banida, por provocar mortes horrorosas...completamente violadoras da dignidade do condenado.
Comentários
A democracia e a bioética fazem-se na dialéctica de opiniões divergentes.
Quem pensar que tem toda a razão já se enganou no ramo de estudos...
Estes ilustres pensadores fundaram escolas, editaram revistas, dirigiram estudos, publicaram livros. Numa palavra: produziram pensamento sério e honesto e criaram escolas de pensamento em Bioética!
Um outro Presidente, uma outra equipa poderá um dia distinguir outras personalidades.
Mas - repito - são mais do justas e merecidas estas condecorações, neste momento, a estes insignes Mestres.
Não está em causa a competência nem a probidade intelectual destes ilustres académicos.
O que se analisa é, em primeiro lugar, o eventual conflito de interesses dos laureados, perante a Igreja e a sua tradicional reserva na aceitação das inovações científicas.
Depois, a oportunidade e a eventual intencionalidade do gesto do Sr. Presidente da República.
Tenho o maior respeito pela Bioética, e penso que a Ciência não a pode dispensar.
Creio, contudo, que o futuro nos ameaça com grandes desafios cientificos, sociais e culturais, a começar pela eutanásia, a experimentação humana, a clonagem, etc. Para desempenhar cabalmente este imprescindível trabalho na área da Bioética é necessário mais do que capacidade dialéctica. Será indispensável insenção moral, independência do pensamento e abertura ao progresso, a toda a prova, facto que, p. exº., não observamos nas meritórias personalidades aqui distinguidas, durante a recente discussão da Lei da IVG, que precedeu o referendo.
No fundo, a ética é o reflexo da beleza estética do pensamento e dos sentimentos abertos, saudáveis e descomprometidos que compreendem a Humanidade no caminho dos imparáveis avanços da modernidade.
Vitor Hugo escrevia:
"Admiremos os grandes mestres, mas não os imitemos."
Odes et Ballades, poesie
Ter opinião sobre assuntos concretos como a IVG, a eutanásia ou a clonagem desabilita o pensador de receber um prémio ou um louvor do Chefe de Estado?
Por essa ordem de ideias também Alexandre Quintanilha nunca poderia receber qualquer condecoração! Ou aqueles que defendem certas ideias merecem condecorações e os que defendem ideias opostas já não as merecem?
Eu compreendo o que quer dizer: estas condecorações a estas personalidades têm um evidente conteúdo político e ideológico. É verdade. Mas isso faz parte das regras da democracia! Não está escrito na Constituição que o Presidente tenha de ser um fervoroso libeal de esquerda ou um anti-clerical dogmático...
Ainda bem!
Assim sempre podemos discordar dele a cada 2 dias! :-)
O PR condecora quem quer e quando quiser de acordo com as normas que regem a atribuição de distinções das Ordens civis e militares.
E, eu, anónimo cidadão, concordo ou não. Tento explicar porquê. Faz parte dos meus direitos e liberdades.
Só que a matreirice repetitiva o jogo inquinado, começa a saturar.
Não acha?
Tem razão!
Mas estas figuras concretas merecem os louvores.
Outras talvez não...