A RTP, Sócrates e as petições
Não assino nem assinarei qualquer petição a favor ou contra a colaboração de Sócrates no canal público, tanto mais que a presença pro bono me retira o único argumento que teria se fosse exorbitante o pagamento.
Há por aí um ódio larvar contra o ex-PM, que foi eleito duas vezes e julgado à terceira com uma derrota eleitoral. Há de ter certamente coisas interessantes a dizer e só não aceito que alguém seja obrigado a ouvi-lo.
Costuma ser mimoseado com injúrias sem que alguma vez tivesse sequer sido arguido, quanto mais condenado por crimes que a opinião pública lhe atribui. Oiço dele coisas que nem do árbitro oiço ao domingo, no café do meu bairro, quando o Benfica perde.
Santana Lopes, que nunca foi eleito para PM, mal fez as férias de nojo da passagem infeliz pelo Governo, passou a ser comentador e presença habitual nas televisões e – diga-se – é melhor comentador do que governante. Marcelo é um intriguista simpático e mentiroso, experiente e empático, mas ninguém lhe nega o direito de ser comentador. Eu oiço-o com agrado. Marques Mendes, depois da passagem, como empregado do Sr. Coimbra, ex-vice-presidente do PSD, entrou-me na sala da televisão sem que eu me incomodasse.
Ministros fascistas de Salazar e Caetano, colaboradores da Pide e outros saprófitas da ditadura, passam pela televisão sem alarido. Se amanhã, depois de sair de PR, Cavaco quiser usar a telegenia no ecrã não perderei o primeiro programa, seja qual for o canal.
Por que raio Sócrates não há de poder comunicar com o país? Há de fazer pior a Seguro, o Passos Coelho do PS, do que ao PSD e a esse adereço extremista – o CDS – a quem o atual PM, na sua inépcia e radicalismo conferiu uma imagem de moderação.
Já é tempo de aprendermos a conviver com a diferença. Até com este PR.
Comentários
O recurso ao modelo peticionário, agora facilitado pela internet,
na ligeireza dos processos e a na irresponsabilidade da escolha dos temas, começa a ser preocupante, porque nada acrescenta à discussão política nem ao aprofundamento do processo democrático. Há dias, alguém me perguntava, com uma leve insinuação crítica, por que razão eu não assinava a petição a mobilizar os cidadãos para promover o levantamento dos depósitos bancários. Limitei-me a perguntar ao meu interlocutor quem é que iria pagar-me as contas da luz, da
agua, do gás e do telefone? Julgo que o meu interlocutor acabou por perceber a irracionalidade da iniciativa, que previamente estava condenada ao fracasso.
Na petição, que anda por aí a correr, em que se pretende impedir o exercício de comentador televisivo a José Sócrates, levantam-se justificadas dúvidas sobre a sua paternidade. Para a direita, a presença televisiva do antigo primeiro ministro poderá representar uma ameaça. Sócrates poderá vir a dizer aquilo que, como primeiro ministro, não disse.
Foi ele que instigou toda a comunicação social contra os funcionários públicos. Nunca nenhum foi tão duro com todos os professores, médicos, ou simples administrativos...
Como fui lesado pela sua política assiste-me o direito de não gostar das suas politicas nem da sua verborreia.
O curioso é verificar quem são os prejudicados e os beneficiados, para além da defesa da liberdade de expressão:
1 - Seguro fica inseguro;
2 - Passos Coelho conseguiu com esta relvice que deixasse de se falar na avaliação da troica;
3 - Fica dada cobertura para um pluralismo que elimina o PCP mas equilibra 2 antigos líderes do PSD - Marcelo e Santana;
4 - Não acredito em bruxas.
Para já a sua entrada como comentador na RTP se nenhum proveito tiver pelo menos é um pedrada no charco onde se pavoneiam os 'comentadores orgânicos'...
E o incómodo será transversal nos chamados partidos do 'arco do poder'. Essa poderá ser uma ténue 'mudança'. De resto, o mais importante é respeitar a liberdade editorial da televisão pública.
UPS, O DIABO NÃO EXISTE!