CHIPRE e Zona Euro: uma relação em avaliação …
O presidente cipriota sentiu a necessidade de garantir, numa conferência anual de trabalhadores que decorreu na capital Nicósia, que "o país não vai abandonar a Zona Euro depois do plano de resgate internacional destinado a evitar a falência e que implica uma reestruturação profunda do sistema bancário”. link
O que significa esta declaração? Pelo menos que o assunto já foi equacionado.
E mais: as impressões de agora poderão não ser a realidades de amanhã.
‘Resgatada’(?) a banca segue-se o problema económico daí decorrente que – como foi repetidamente mencionado – é extremamente dependente da saúde do sistema financeiro (bancário). Uma certeza: o sistema bancário cipriota, tal como funcionou nos últimos 30 anos, poderá não acabar na insolvência pura e simples, mas esboroou-se.
Começa então a tornar-se nítido que, neste contexto, a permanência na Zona Euro só poderá acarretar problemas no ‘ajustamento’ da trajectória económica às novas condições. Não é conhecido o ‘pacote’ que a troika vai exigir para libertar os 10. 000 milhões de euros. Mas não é difícil adivinhar. O carrossel é sempre o mesmo. Austeridade implacável que começa mitigada com um memorando ‘soft’ e em cada exame regular será intensificada. A ‘receita da Troika’ além de ter perdido a credibilidade enquanto ‘solução’, deixou de ser ‘politicamente’ inocente. Já não há maneira de iludir estes sentimentos.
Existe – no espaço europeu - cada vez menos adeptos de que a libertação dos problemas agudizados no seio da Zona Europa (e são cada vez mais endémicos) terá necessariamente passar por uma descida aos infernos (espiral recessiva e desemprego astronómico). O conceito que a redenção terá forçosamente passar por penosos sacrifícios poderá ter adeptos no campo religioso, mas tornou-se insuportável no aspecto político, económico e social.
Num artigo publicado há 3 dias no NYT, o economista Paul Krugman defende esta ideia link. A economia cipriota tem vivido de 2 sectores: o financeiro (serviços bancários de offshore) e o turismo. A decisão do eurogrupo destroçou o sector bancário do qual dependem subsectores complementares como o imobiliário. A queda do PIB segundo estima Krugman deverá atingir valores que rondam os 20%. Uma ‘depressão’ com efeitos económicos e sociais devastadores que levam qualquer País a repensar uma questão simples: Quais os custos da saída e qual o preço da permanência?
A desvalorização monetária decorrente de uma eventual saída e regresso à libra cipriota poderá ser sobreponível à queda do PIB. Mas em contrapartida o Governo de Chipre fica com a capacidade de utilizar instrumentos financeiros (como a autonomia monetária e a desvalorização cambial) que poderão servir para 'alavancar' a outra vertente económica do País: a indústria turística. A permanência na Zona Euro, pelo contrário, poderá fazer o turismo sucumbir, por arrasto, com a crise financeira. Uma diversificação económica, por exemplo, uma viragem para o sector primário, também poderia ser suportada por mecanismos cambiais autónomos.
Estou convicto que a (re)ponderação sobre a permanência na Euro zona, em Abril, com o conhecimento das cláusulas inerentes ao ‘pacote de resgate’ será imperativa. Aliás, quando observamos a situação dos países intervencionados na UE, não existe outra porta aberta que possibilite adaptar (renegociar) os programas de resgate, todos desenhados à volta da mesma 'receita'.
E finalmente, quais as consequências para a UE da deserção da EuroZona pelo Chipre? Em primeiro lugar o risco de contágio. Subordinado a este risco a dimensão das ‘consequências sistémicas’. Este caso (Chipre) que arrancou no terreno financeiro poderá vir a ser o exemplo prático de como o impasse acerca dos ‘eurobonds’ poderá ser muito interessante para as eleições federais alemães mas vai provocar o ‘estouro’ da moeda única e a reboque o desmantelamento da UE.
A visita – no centro do furação da crise - de Michael Sarris (ministro das Finanças cipriota) a Moscovo, efectuada ao arrepio da vontade da Sra Merkel, não deu resultados imediatos. Mas o passo está dado. Provavelmente, o plano alternativo ao resgate de troika estará 'só' a amadurecer…
Comentários
Em cada esquina um… BPN!
“...De acordo com a imprensa grega, o Banco de Chipre, o Banco Popular e o Banco Helénico apagaram milhões de euros em dívidas dos últimos cinco anos em benefício de deputados, parentes ou sociedades ligadas a personalidades políticas...”. link