MANIFESTAÇÃO 2 Mar 2013: das leituras políticas às múltiplas indignações…
Hoje, o País vai assistir a um miserável esgrimir de números à volta da manifestação de 2 de Março como se o problema estivesse aí. E colada a esta ‘manobra de diversão’ deverá enxertar-se outra. A da ‘variedade’ de motivos de protesto tentando retirar à manifestação o carácter firme e determinado que efectivamente teve.
Para não alinharmos por estes ínvios caminhos será melhor ‘ver’ a manifestação de 2 de Março como um ‘enorme’ (um termo que o Governo conhece) protesto contra a política do actual Governo e para cuja resolução os manifestantes, ontem, ‘só’ deixaram em aberto uma estreita saída de sentido único: a demissão.
Há seis meses – em 15 de Setembro – ainda poderia haver espaço para mudanças de rumo, para arrepiar caminho, mas a partir de agora o Governo ficou a saber que só lhe resta a demissão.
A manifestação não ofereceu soluções, nem podia de fazê-lo. Trata-se da vernácula expressão de um movimento cívico, de opinião, de protesto, de contestação e de reposicionamento político e social. Não assumiu – e ainda bem – um carácter substitutivo ou alternativo às forças políticas que, no actual quadro institucional, está confinado às organizações partidárias. Deixou o terreno aberto para que estas, por sua vez, se mostrem capazes de enquadrar o ‘sentir’ da sociedade e propor soluções alternativas, ao descalabro presente.
A manifestação de ontem ‘matou’ a política oficial do ‘sem alternativas’, mas não questionou o regime. Pelo contrário, sublinhou, reforçou e exigiu fidelidade ao regime decorrente do 25 de Abril, congregando-se neste amplo e inequívoco referencial. Este o facto que transversalmente percorreu as manifestações de expressivo âmbito nacional.
Foi, para além do mais – e existem múltiplas leituras – um ‘sei por onde não quero ir’. Neste momento a bola está do lado do Governo que se adoptou a ‘estratégia da avestruz’ e se esquiva a tirar ilações políticas sobre o grandioso acontecimento de ontem, das Oposições que terão de saber interpretar o movimento e o sentimento popular que progressivamente vai engrossando e mostrando sinais de inquietação e revolta e, por último, do Presidente da República que terá de sair rapidamente de um angustiante período de hibernação, mantendo-se totalmente alheado da política activa nacional.
Chegados aqui – ao Presidente da República – ainda ontem, e um pouco à margem do acontecimento cívico do dia, tivemos notícia de uma inqualificável provocação social. A manifestação contou com a participação de cidadãos oriundos de todos os estratos sociais e económicos da população mas foi notória – pelo menos em Coimbra - uma activa e representativa participação de pensionistas e aposentados, decorrentes das situações de espoliação remuneratória e de confisco fiscal que – sob a batuta deste Governo - se abateram sobre estes sectores. link; link; link. Regressados ao remanso dos seus lares, vindos de uma jornada cívica imponente e impressionante, os manifestantes reformados (pensionistas e aposentados) seriam confrontados com uma insuportável provocação que provavelmente despertou a vontade de regressar, de imediato, à rua. Ao fim do dia os órgãos de comunicação social divulgaram a seguinte nova: “Ex-presidente do BCP Filipe Pinhal lidera Movimento dos Reformados Indignados” link, organização conjunta com o SNQTB - Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários.
Muitas vítimas da política social, económica e financeira deste Governo, face a este inusitado anúncio, ficam ansiosamente a aguardar que, numa próxima manifestação, Cavaco Silva, um ex-quadro bancário (BdP) aposentado, seja referenciado na rua, lado a lado com Filipe Pinhal (ex- presidente do BCP), a quebrar sepulcral silêncio a que se remeteu…
De facto, a desfaçatez não tem limites e a injúria aparece ao dobrar da esquina. Com esta estirpe de gestores bancários, de facto, ninguém ‘aguenta’, pois não se contentará em remeter uma multidão de indignados e deserdados para debaixo da ponte. Na verdade, o engrossar dos movimentos de reformados e pensionistas link que vão surgindo por todo o País teria de suscitar uma 'resposta' provocatória e descredibilizante. Ela aí está!
Adenda: Filipe Pinhal ganha como reformado do BCP mais de 70.000 €/mês, ou seja cerca de 1 milhão de euros/ano. link.
Comentários
É coisa para indignar ainda mais os reformados, que dispensam a provocatória oferta de liderança.