O Chipre, a União Europeia e o euro
Contrariando a diretiva comunitária que garante os depósitos bancários até 100 mil €€, os ministros das Finanças da UE assinaram a pilhagem de 6,75% para esse valor e de 9,9% para valores mais elevados. Depois, perante a insurreição parlamentar de Chipre, resolveram taxar em 30% os depósitos superiores ao referido montante, julgando apagar o lume da lareira enquanto o fogo alastrou na floresta.
Em Portugal, por mais pausada e convictamente que o ministro Gaspar garanta que os bancos estão sólidos, a liquidez evapora-se. Já todos sabem do que são capazes, antes de recuarem no saque, fosse qual fosse o montante.
A lavandaria de capitais de origem criminosa, em que Chipre se converteu, existia antes da adesão à União Europeia. Os ministros das Finanças, quais virgens pudicas, fingiram ignorar o passado para defenderem interesses da agiotagem que servem. Não tributam os lucros e a riqueza, saqueiam de forma cega as poupanças, sem cuidarem da origem.
O presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, afirmou que, «se existir um risco num banco», ir-se-á «…se necessário, aos detentores dos depósitos não garantidos». Perdida a confiança, mesmo em relação aos depósitos até 100 mil euros, fácil é concluir que os depósitos superiores vão migrar, a custo zero, dos países pobres para os ricos que os vão emprestar aos países de origem enquanto julgarem seguro reaver o capital e os juros.
O capital nunca hesitou perante o lucro e raramente pondera as tragédias que semeia. A Alemanha recusa tornar-se europeia e tenta transformar, em alemã, a Europa. Às vezes a História prega partidas enquanto todos nos afundamos num mundo global onde o centro de gravidade económica se transfere para o Pacífico e os conflitos europeus se arriscam a ser dirimidos como soía até 1945.
Não sei se a distância ou as circunstâncias nos levam a ver gigantes nos governantes da década de quarenta do século que foi, e pigmeus nos que ora nos couberam, mas temos de aceitar que não foi generosa a colheita donde saíram estes. São sombrias as nuvens que espreitam no horizonte e nebuloso o futuro que nos espera.
Ponte Europa / Sorumbático
Comentários
Construir alguma coisa de aceitável, digna e válida para os cipriotas quantos anos vai demorar?
Há no horizonte desta Europa um défice de que ninguém fala e é dificil de contabilizar: o défice de futuro.