António Gentil Martins e Paulo Rangel
António Gentil Martins, um destacado cirurgião
pediátrico, bastonário da OM, durante quase uma década, e figura de relevo na
sociedade portuguesa, foi durante toda a vida um ultraconservador que me
habituei a respeitar.
Discordava das suas posições cívicas e políticas
porque defendia posições retrógradas, e respeitava-o. Opunha-se à
descriminalização do aborto e à eutanásia com intransigente radicalismo, mas
exercia o seu direito, tão legítimo como o meu, de sinal contrário.
Até ao dia… até ao dia em que lamentou que a evolução
da ecografia levasse à IVG, o que impedia o termo de gravidezes com
malformações fetais, nomeadamente de bebés siameses, e impedia o adestramento
de cirurgiões para tais cirurgias. O médico que fez cerca de 12 mil cirurgias,
salvou imensas vidas e, em sete pares de gémeos siameses que separou, conseguiu
a sobrevivência de nove, perdeu, na sua aversão à IVG nos casos de risco de
vida da mãe, malformações fetais e violação, a consideração que me mereceu.
Hoje, a fazer 87 anos, só lhe desejo saúde e vida.
Perdeu o meu respeito e consideração.
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Na última sexta-feira, Paulo Rangel, eurodeputado do
PSD, no debate "Decidir sobre o final da vida", promovido pelo
Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV), onde se
confrontaram posições a favor e contra a eutanásia, manifestou-se, com toda a
legitimidade, contra a legalização.
Se há temas que dividem não apenas as pessoas, mas a
própria pessoa, este é um deles. Podendo alegar-se que os direitos individuais
não se impõem aos outros e são sempre lícitos, não há outros motivos
consensuais. Paulo Rangel tem uma posição defensável e legítima.
Onde tocou as raias do absurdo e se portou de forma
demencial foi no argumento usado: «Se existe o direito ao suicídio também
existe ao homicídio». É possível que um jurista experiente não distinga as
situações, as equipare e, em coerência, exija a mesma sanção penal para o
assassínio e o suicídio, ambos na forma tentada, já que o suicídio bem-sucedido
não é passível de julgamento?
Tal dislate parece-me tão reles como pensar que o
assassinato de uma pessoa normal é homicídio e o de uma criatura como Rangel,
um “crime de maus tratos a animais”.
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