Coisas que me chateiam

«Não gosto que me sequestrem, sei lá, é uma coisa que me chateia.»
(Pinheiro de Azevedo, ex-PM)

Chateia-me que se expludam ao pé de mim, junto de quem partilha os meus valores e o mesmo espaço civilizacional ou de quem quer que seja. Quem goste de se explodir, faça como os bonzos, imole-se sozinho.

Chateia-me que haja quem se julgue superior às mulheres, as lapide e vergaste, lhes confisque as liberdades e as humilhe.

Chateia-me que se ocupem diariamente ruas para manifestações pias e as interrompam à circulação, que me chamem infiel, sabendo o que fazem aos infiéis, que se proíba a carne de porco, a música, a dança ou o álcool, e se decretem o jejum e a abstinência.

Chateia-me o horror às artes plásticas, aos deuses de outros e a outros que não têm deus.

Chateia-me a aceitação da escravatura, da pedofilia, sob o pseudónimo de matrimónio, e da poligamia.

Chateiam-me as agressões conjugais, normalmente do homem à mulher, e chateia-me o homem que agride, e a comunicação social que só humilha o político e ignora o clérigo.

Chateia-me a excisão do clitóris, a circuncisão, a abominação das viúvas, a divisão em castas, a homofobia, o racismo e o proselitismo.

Enfim, chateia-me que se discriminem, persigam ou assassinem budistas, muçulmanos, hindus, cristãos, animistas, ateus, xintoístas, agnósticos, racionalistas, bruxas, céticos, livres-pensadores, quiromantes, judeus, cartomantes, lançadores de búzios ou outros, e quem renuncie a uma crença ou a todas, sabendo que todos somos ateus em relação aos deuses dos outros.

Não gosto que me atropelem, gaseiem, expludam ou esfaqueiem, sei lá, são coisas que me chateiam.

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