Brexit – masoquismo e sadomasoquismo
É difícil a um convicto europeísta entender a obstinação do Parlamento inglês que, após a vitória do Brexit, perante claros indícios de que o resultado de um novo referendo não se repetiria, persiste na cega determinação de reduzir o Reino Unido a uma pequena Inglaterra e País de Gales, sem viabilizar uma nova consulta eleitoral.
Que interesses ou ambições pessoais oculta a renúncia a outro referendo?
Cameron, oportunista e cobarde, foi responsável pelo isolamento britânico que está em vias de consumar-se, arrastando a UE na irrelevância para que caminha o RU. Nem a senhora May nem Jeremy Corbyn desejam consultar de novo o eleitorado, numa matéria que condiciona o futuro das novas gerações de um e de outro lado do Canal da Mancha.
O Reino Unido perde grandes empresas, diminui o poder de compra dos seus cidadãos e isola-se, convencido de que é o mundo que fica separado do Império Britânico, e arrisca tornar-se mais dependente dos EUA onde a política de Trump não lhe augura segurança.
A União Europeia, por maiores que sejam as críticas que mereça, poderia sempre vir a ser o que os seus Estados quisessem, construir o modelo que desejassem e tornar-se a potência que o PIB e a população, superiores aos EUA, permitia.
A União Europeia deixa de contar com a segunda economia e as mais poderosas Forças Armadas. Numa vitória de Pirro, Boris Johnson derrotou Cameron, pois a promessa do referendo, para ganhar eleições, resultou na humilhação do último e na falta de soluções do primeiro, incapaz de medir as consequências.
O Reino Unido prefere o isolamento, e a UE perde a sua maior potência militar, a única nuclear, além da França, e a mais sólida e antiga democracia. O RU era a vacina contra a tentação autoritária do eixo franco-alemão e a deriva fascizante que regressa à Europa.
A desilusão dos ingleses acompanhou a onda populista e radical da UE, enquanto o PPE combatia os partidos progressistas de todos os países, incluindo o Partido Trabalhista britânico, que se bateu pela permanência, com o sacrifício da sua deputada Jo Cox, símbolo da união do projeto europeu, adversária da xenofobia e da visão conservadora e monetarista da UE.
O Reino Unido arrisca a secessão da Escócia e do País de Gales e convulsões na Irlanda do Norte, enquanto a UE, com o estímulo de Trump e Putin, se expõe à desintegração de Espanha, Itália e Bélgica, com a Córsega a chantagear a França e todo o seu espaço em risco de exacerbar velhos nacionalismos e redefinir novas fronteiras.
A geografia política da Europa não é imutável nem pacífica; não é perpétua a liberdade nem vitalícia a democracia; os países também não são eternos.
A uma União Europeia fragmentada não insistirá no pedido de adesão a Turquia, é esta que há de vê-la como mais um Curdistão.
Não sei se a rejeição, ontem, do cenário de Brexit sem acordo – em qualquer momento e em qualquer circunstância –, abrirá uma janela de oportunidade para reparar o erro. Só quatro votos salvaram a votação.
Que interesses ou ambições pessoais oculta a renúncia a outro referendo?
Cameron, oportunista e cobarde, foi responsável pelo isolamento britânico que está em vias de consumar-se, arrastando a UE na irrelevância para que caminha o RU. Nem a senhora May nem Jeremy Corbyn desejam consultar de novo o eleitorado, numa matéria que condiciona o futuro das novas gerações de um e de outro lado do Canal da Mancha.
O Reino Unido perde grandes empresas, diminui o poder de compra dos seus cidadãos e isola-se, convencido de que é o mundo que fica separado do Império Britânico, e arrisca tornar-se mais dependente dos EUA onde a política de Trump não lhe augura segurança.
A União Europeia, por maiores que sejam as críticas que mereça, poderia sempre vir a ser o que os seus Estados quisessem, construir o modelo que desejassem e tornar-se a potência que o PIB e a população, superiores aos EUA, permitia.
A União Europeia deixa de contar com a segunda economia e as mais poderosas Forças Armadas. Numa vitória de Pirro, Boris Johnson derrotou Cameron, pois a promessa do referendo, para ganhar eleições, resultou na humilhação do último e na falta de soluções do primeiro, incapaz de medir as consequências.
O Reino Unido prefere o isolamento, e a UE perde a sua maior potência militar, a única nuclear, além da França, e a mais sólida e antiga democracia. O RU era a vacina contra a tentação autoritária do eixo franco-alemão e a deriva fascizante que regressa à Europa.
A desilusão dos ingleses acompanhou a onda populista e radical da UE, enquanto o PPE combatia os partidos progressistas de todos os países, incluindo o Partido Trabalhista britânico, que se bateu pela permanência, com o sacrifício da sua deputada Jo Cox, símbolo da união do projeto europeu, adversária da xenofobia e da visão conservadora e monetarista da UE.
O Reino Unido arrisca a secessão da Escócia e do País de Gales e convulsões na Irlanda do Norte, enquanto a UE, com o estímulo de Trump e Putin, se expõe à desintegração de Espanha, Itália e Bélgica, com a Córsega a chantagear a França e todo o seu espaço em risco de exacerbar velhos nacionalismos e redefinir novas fronteiras.
A geografia política da Europa não é imutável nem pacífica; não é perpétua a liberdade nem vitalícia a democracia; os países também não são eternos.
A uma União Europeia fragmentada não insistirá no pedido de adesão a Turquia, é esta que há de vê-la como mais um Curdistão.
Não sei se a rejeição, ontem, do cenário de Brexit sem acordo – em qualquer momento e em qualquer circunstância –, abrirá uma janela de oportunidade para reparar o erro. Só quatro votos salvaram a votação.
Ponte Europa / Sorumbático
Comentários
E não deixa de ser pertinente inquirir se o Parlamento britânico representa , no actual momento, a vontade popular ou está a jogar outra cartada.
Esta dúvida - só por si - é inquietante mas, não tenhamos ilusões, há quem pretenda aproveitar-se dela: os populismos nacionalistas, ultra-direitistas e, só, aparentemente 'conservadores'. A Europa está a ser varrida por um vendaval (mais um!).
Noto ainda, no entanto, que aquilo que será ultimamente decidido é antes de tudo um problema dos parlamentares britânicos.
A UE tem feito o que é suposto que faça, ou seja, tem procurado um mecanismo que lhe permita proteger o mercado único e ao mesmo tempo conservar a fronteira na Irlanda aberta. O que aqueles que criticam a sua posição querem é que ela permita um cavalo de Troia no seu seio... Trata-se, claro, de má fé.
Em face disto, o acordo negociado entre May e Barnier é mau mas parece-me o único possível. Os britânicos precisam de perceber que não podem recuperar a sua soberania plena sem custos...
E é isso que ainda não perceberam. Eles e muita gente mais...
Não esquecer o que aconteceu em 2008, na Irlanda, sobre o Tratado de Lisboa, e como foram os seus desenvolvimentos.
Hoje, no(ainda) Reino Unido as questões serão diferentes. A postura britânica em relação à Europa sempre foi dúbia e, no presente, a posição assumida por De Gaulle sobre a adesão da Grã-Bretanha à UE é cada vez mais oportuna.
Vai ser cada vez mais difícil continuar a desempenhar a duplicidade de estar com um pé dentro e fora, ao mesmo tempo. Os mais recentes desenvolvimentos políticos demonstram isso mesmo. Num País partido ao meio sobre a 'questão europeia' a primeira vítima será a unidade interna.
O 'jogo parlamentar' está inquinado à volta de uma arcaica bipolarização (conservadores versus trabalhistas)que, como é notório, não consegue responder aos desafios do presente. Nos últimos dias observa-se, ao nível institucional (e as instituições pesam muito no RU), uma suicidária caminhada para a mudanças políticas que os britânicos ainda não se aperceberam.
O adiamento do Brexit pressupõe a queda do governo da Srª. May e eleições legislativas antecipadas cujo resultado é uma incógnita. Não é de prever qualquer capacidade do atual governo para (re)negociar um 3º. acordo com o 27 países da UE.
Assim, essas eleições serão - quer queiramos quer não - uma 2ª. volta do referendo sobre a permanência, ou não, na UE que 'pruridos democráticos' tem tentado evitar. Na verdade, o 'exit', cada dia que passa, revela-se como um processo que decorreu cheio de indefinições, aleivosias e mistificações que o tempo tem vindo a evidenciar.
Muito embora seja - aparentemente - pouco abonatório a 'repetição' de referendos até obter o resultado burocraticamente desenhado (ou politicamente ajustado), de que o espaço europeu é useiro e vezeiro, não se vislumbram outras soluções que sejam capazes de evitar a repetição do referendo que ratifique ou retifique o resultado de há 2 anos. A decisão cabe aos britânicos - e só a eles - mas há uma certeza: hoje, tem um maior capacidade democrática já que estão mais informados e conscientes das consequências de tal decisão.
Há muita hipocrisia nas posições comuns da UE. Ninguém na Europa assume que a resolução da situação criada pelo Brexit passa por eleições gerais na Grã-Bretanha e continuam a 'encanar a perna à rã', promovendo múltiplas (estéreis) reuniões em Bruxelas, Estrasburgo e Londres, onde se gizam disfarçados ultimatos...
Ora, em questões de ultimatos, os britânicos são exímios praticantes (os portuguese sabem que é assim...).
E há outra diferença relativamente aos idos do Império em que o Sol nunca se punha, é que desta vez o RU é um País de tamanho médio a lidar com uma União de 27 países, ou seja, calha-lhes estar do lado fraco da corda.
Coisa que julgo que nem todos os deputados da 'Mãe de Todos os Parlamentos' se aperceberam ainda...
Trata-se de um chorrilho de afirmações e contradições que começam com a chantagem de Cameron em Bruxelas para um 'estatuto especial' para o RU (ou antes disso), seguiu-se o referendo com os resultados que se conhecem, marcou-se um data para consumar o 'divórcio' de acordo com os 'brexistas' (alguns conservadores, nacionalistas e populistas), começaram as negociações entre CE e o Governo May, delineou-se um acordo conjunto, a UE afirma que não há 2ª oportunidade, o parlamento britânico rejeita o primeiro acordo, a UE volta atrás e dá uma 2ª oportunidade ao Governo de May, o parlamento britânico volta a rejeitar, a UE diz que não há novo acordo nem mais oportunidades, os Comuns adiam o exit, os 27 países europeus alinham-se para aceitar... (um não mais acabar!).
O que é 'isto'?
Vejamos, o busílis da questão é o denominado 'backstop': o RU mantém-se na União Aduaneira por quanto tempo for necessário para que seja encontrada uma solução técnica que permita manter a fronteira entre as Irlandas aberta (essencial para a manutenção da Paz) e que permita então ao dito RU sair dessa UA sem fazer perigar o mercado único. Assim que sair da UA (depois de encontrada a dita solução técnica), pode ter a política comercial que quiser.
De outro modo, o RU poderia exportar para a UE através dessa fronteira sem ter que cumprir com as regras europeias (e garanto-lhe que o fariam, se há chico-expertismo, é o britânico).
Não há mercados únicos e uniões aduaneiras que não tenham fronteiras. A Noruega tem uma fronteira com a UE, e os produtos canadianos têm igualmente que passar pela Alfândega.
Os brexiteiros de todas as cores querem que os povos soberanos da UE se submetam à vontade democrática do povo britânico, o que é uma treta. Eles votaram para sair, não para saírem levando as vantagens que têm de pertença à UE e deixando para trás as obrigações.
Acho muito bem que se dê todo o tempo do mundo ao RU para aceitar o facto simples da vida de que a Democracia permite fazer escolhas mas não é um garante de felicidade eterna, sobretudo à custa dos outros que não são parvos...
O mesmo se passou com a Grécia no fundo. A UE pode ter enxovalhado o Governo Grego, mas este pôs-se a jeito, ao ter convocado um referendo sem um claro plano de saída do Euro porque era isso que estava no boletim... Coisa aliás que Papandreou queria fazer uns anos antes, concordando com Merkel que a recusa da austeridade implicaria a dita saída do Euro...
Há uma falácia corrente que se deve em parte à conversa sobre a solidariedade europeia. Nas relações entre Estados, a vontade democrática dos povos deve ser levada em conta, mas não é determinante, a não ser que um Estado queira subjugar o outro. O que conta no jogo diplomático são as relações de força.
Os Britânicos querem sair sem acordo? Pois que saiam e sofreremos todos com isso. Agora, se querem sair com acordo, parece-me que o de May é o melhor que se pode de momento arranjar...