Notas Soltas – setembro/2019

Vaticano – A meteórica elevação de um presbítero a cardeal, aliás, um homem culto, inteligente e civilizado, provocou tal onda de euforia em Portugal que revela bem que não são as qualidades do homem que se apreciam, é o êxito do clérigo na hierarquia.

Amazónia – Desde a chegada de Bolsonaro, em janeiro, perdeu mais de 1300 km2, um aumento de 39 % em relação ao mesmo período do ano anterior, mas a desflorestação em junho, antes dos incêndios devastadores, foi 80% superior a junho de 2018.

Hong Kong – Quem ama a democracia não podia deixar de ser solidário com quem luta pelo direito ao voto universal e secreto, mas quem conhece as ditaduras aflige-se com os perigos que pairam sobre os manifestantes e a desvirtuação dos objetivos iniciais.

Reino Unido – O oportunismo do então primeiro-ministro, David Cameron, ao propor o referendo sobre a permanência na UE, atraiçoou a essência parlamentar da democracia inglesa, assente em governos representativos, com a demagógica promessa eleitoral.

Itália – A mais improvável das coligações conseguiu travar a extrema-direita de Salvini e frustrar, ou adiar, o plano que ele e o seu patrocinador Steve Banon, turista político em Itália, tinham para exportar o populismo e desintegrar a União Europeia.

Zimbabwe – Aos 95 anos, morreu o herói da independência. O libertador tornou-se um ditador, egoísta, cruel e ladrão. Cursou a mesma universidade de Mandela, na África do Sul, mas faltou-lhe a grandeza ética, cívica e política do Nobel da Paz.

Elisa Ferreira – Mais importante do que os pelouros da coesão e reformas na Comissão Europeia, atribuídos à nova comissária durante os próximos cinco anos, é a escolha que privilegiou a competência de quem estava preparada para os assumir.

Rússia – O autocrata Putin já começou a perder poder. A eleição de 19 dos 48 membros da Assembleia Municipal de Moscovo pela oposição foi o rude golpe infligido ao poder absoluto do autocrata que ameaça tornar-se vitalício.

Kristalina Georgieva – A candidata do Grupo Bilderberg a S-G da ONU, proposta por Durão Barroso, que a apoiou na ronda final contra Guterres, vai ser a nova líder do FMI. É a pessoa certa para os interesses do Clube de Bilderberg.

Israel – A promessa eleitoral do primeiro-ministro Benjamín Netanyahu de estender a soberania ao vale do Jordão palestino e ao norte do Mar Morto foi uma ameaça a outro país, de um nacionalista sem escrúpulos, capaz de tudo para tentar ganhar eleições.  

Rui Rio – O debate com o PM mostrou um político corajoso e decidido, que dominava os assuntos de Estado, com um programa para o País. Faltando-lhe o partido, que Passos Coelho e Cavaco radicalizaram, acaba a campanha a imitá-los.

Brasil – O juiz Sérgio Moro, cúmplice do golpe de Estado contra a PR Dilma, e artífice da eleição de Bolsonaro, é ministro da Justiça e autor de um projeto legislativo que iliba polícias que matem, alegando “medo, surpresa ou emoção violenta”. Ordem para matar!

Espanha – A falta de entendimento democrático à esquerda leva a mais uma repetição de eleições, sem garantia de que a correlação de forças se altere, com possibilidade de a direita radicalizada vir a formar Governo com o partido fascista VOX.

ONU – Ao reclamar aos Estados medidas urgentes para travar a emergência climática, interpreta o desespero da população perante a ausência de futuro para os filhos e netos. O Planeta não sobreviverá ao divórcio da população que o habita sem o respeitar.

Madeira – A vitória insuficiente do PSD, a necessitar da ajuda do seu satélite CDS, é o princípio do fim de 43 nos de clientelismo e poder monopartidário. Não há democracia sem alternância do poder e as últimas eleições prenunciam a normalidade democrática.

Francisco Franco – O Supremo Tribunal de Espanha aprovou a exumação do genocida e deu razão ao Governo socialista na batalha legal travada com a família do ditador para transferir os restos mortais de Franco, do Vale dos Caídos para o cemitério El Pardo.

Boris Johnson – A suspensão do Parlamento do Reino Unido, ordenada pelo truculento candidato a ditador, foi ilegalizada pelo Supremo Tribunal, semanas antes da data agendada para o ‘Brexit’. Se a decência fosse uma virtude sua, restava-lhe demitir-se.

Cimeira do clima – A coragem e ansiedade do sec.-geral da ONU, António Guterres, a intimar governantes para salvarem o Planeta, teve eco em políticos sensatos, capazes de sacrificar interesses eleitorais, convictos de que a sobrevivência depende deles.

Ucrânia – A divulgação dos telefonemas de Trump ao homólogo ucraniano, Vladímir Zelenski, a mandar espiar o filho do ex-vice-presidente e agora adversário, Joe Biden, revela a venalidade de um político chantagista, amoral e corrupto.

Nuno Melo – O solitário eurodeputado do CDS, o elemento mais extremista da direção, afirmou na campanha eleitoral ‘que estava em causa o ar que se respira’. Ele, que tem a pituitária ainda aferida pelo ar que se respirava na ditadura, não tem vergonha.

Bolsonaro – O estúpido, ignorante e inapto PR, afirmou que a nomeação do filho, para embaixador nos EUA, não era nepotismo, era um benefício para o Brasil porque, sendo seu filho, era-lhe mais fácil ser recebido por Trump do que os outros embaixadores.

Tancos – O momento em que surgiram as acusações judiciais, perturbando a campanha eleitoral, e a atingirem o PM e o PR na luta para extinguir a PJ militar, deu a impressão, certamente errada, de uma agenda política a instrumentalizar o Ministério Público.

Áustria – A vitória clara do Partido Popular (ÖVP), do conservador Sebastian Kurz, com 37,1% dos votos e a derrota do aliado de extrema-direita deixa-o livre para várias hipóteses de coligação para se libertar da humilhante parceria. 

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