Abertura do Ano Judicial – Marcelo esqueceu-se de que era o PR

Marcelo é desconcertante, capaz do melhor e do pior, de tocar às campainhas das portas para comprometer um amigo, de inventar uma ementa com Vichyssoise para ludibriar um jornalista, de se baixar a oscular o anel de um bispo ou enternecer um sem-abrigo com a afetividade, deliciar jornalistas como comentador de todas as questões e manter quatro anos sucessivos de frenética atividade a promover a recandidatura a Belém.

Mistura a sua invulgar cultura, inteligência e argúcia com o populismo e o narcisismo.

Marcou a abertura do ano judicial com a leveza do constitucionalista que se esquece da hierarquia do Estado e se embrenha na defesa de uma grelha salarial, sobre quem pode e deve beneficiar de altos salários e de quem não pode nem deve ser equiparado.

Defendeu que os magistrados merecem ter um teto salarial superior ao do PM, enquanto os políticos terão de esperar, como se não houvesse hierarquia do Estado e a questão das remunerações fosse assunto seu. Esqueceu o PR que o PM precede os presidentes do TC e STJ, e que o presidente da AR é a segunda figura do Estado?

Por que razão entende justos os aumentos que colocaram os magistrados judiciais numa posição que humilha os titulares dos órgãos de soberania eleitos, bem como os militares   e outros altos funcionários, que sempre lhes estiveram equiparados e, em relação aos titulares de órgãos de soberania eleitos, entende que “é indesejável o reajustamento” das remunerações em tempos como os atuais, “largamente incertos e de impossibilidade de elevação de estatuto generalizado de titulares de cargos ditos políticos”?

Quem, como eu, entende que nenhum agente do Estado deve ganhar mais do que o PR e defende que há uma hierarquia cuja subversão cria o caos e a injustiça, não pode deixar de repudiar as palavras injustas e humilhantes para as funções de topo do Estado.

O PR tem funções nobres, mas o Professor Sousa entrou numa deriva demagógica que compromete as funções e, na modesta opinião do eleitor que sou, não merece reincidir no cargo, apesar de saber que, tal como Trump, pode fazer qualquer tropelia que não perde eleitores.

No discurso da abertura solene do Ano Judicial, Marcelo  pareceu menos o PR e mais o promotor de Cavaco a líder do PSD na Figueira da Foz ou a arquiteto da sua campanha presidencial na vivenda que lhe era familiar, de Ricardo Salgado, na companhia pouco recomendável do anfitrião, do cúmplice da invasão do Iraque e do ora feliz proprietário da vivenda Gaivota Azul, todos acompanhados das respetivas companheiras mais ou menos legítimas.

Marcelo começou bem o primeiro mandato presidencial, mas teme-se que não lhe permita a matriz genética acabar com dignidade 10 anos de PR.

Comentários

joao pedro disse…

De acordo !

João Pedro

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