O PR, o coronavírus e a doença das vacas loucas

Há mais de três décadas surgiu na Europa uma doença neurodegenerativa que afetava o gado doméstico bovino e se propagou aos humanos, com iguais consequências. Em vez de se tomarem as medidas devidas, preferiu-se negar a doença, na defesa dos interesses dos criadores de vacas.

O então ministro da Agricultura apareceu a comer mioleira de vaca à frente das câmaras de televisão, enquanto se pôs em marcha a campanha que atacava o carácter e denegria, de forma demolidora, o eurodeputado António Campos, que teve a coragem de insistir nos perigos da doença e alertar, não apenas Portugal, mas a Europa.

Só quem estivesse couraçado nas lutas contra a ditadura, como o eurodeputado estava, teria a coragem de insistir na denúncia do perigo e nas medidas de prudência, perante a vaga de insultos, ofensas e ameaças.

A encefalopatia espongiforme bovina, que ficou conhecida por doença das vacas loucas, foi debelada, se a memória me não falha, pela proibição de alimentar os bovinos com farinhas onde entravam carne e ossos de indivíduos da mesma espécie. A epidemia, que surgiu no Reino Unido, deveu-se ao contágio dos bovinos, transformados de herbívoros em carnívoros, com alimentação dos da sua espécie.

Hoje, o mundo está sob a ameaça de uma epidemia de um vírus cuja mortalidade não se afasta muito da de outros vírus da gripe que anualmente aparecem, e que, além da sua malignidade, está associado a um vírus bem mais demolidor do que o coronavírus 19, a morbidez dos média e a ansiedade da desgraça que, tal como nos desastres viários e nos incêndios, têm um público imenso, ávido de sangue e tragédias. A ansiedade e o medo vendem mais do que a serenidade e a precaução.

As autoridades de saúde portuguesas, incluindo especialmente a diretora geral de Saúde, injusta e cruelmente deturpada e insultada, têm exercido uma ação educativa, a todos os títulos meritória. Enquanto procuram minimizar os efeitos do coronavírus, alertam para as medidas de precaução que urge observar.

Foi neste contexto que o PR, com a exposição mediática que procura e de que goza, se permitiu, à semelhança do ex-ministro da Agricultura, a comer mioleira de vaca, insistir no rali dos beijos repimpados, abraços e selfies, com câmaras da TV atentas, na frenética campanha de simpatia, com atos insalubres e contrários às recomendações das autoridades sanitárias.

Assim, não. O exemplo vem de cima e multiplica-se por simpatia. E é perigoso.

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