Associação 25 de Abril

Car@(s) Associad@(s)

Na sequência da divulgação que fizemos de três artigos sobre a situação nos Lares, recebemos um texto do nosso associado Carlos Pereira Martins.
Como ele próprio o refere, o Carlos Martins tem conhecimentos, currículo e autoridade para se pronunciar sobre o tema "Ordens Profissionais e bastonários".
Razão tem o Carlos Matos Gomes, ao terminar o seu texto com a sugestão de se enviar um bastonário para um povo que habita as florestas do Congo, os Simba. Parece-nos que o referido bastonário não deve ir só. Se se procurar bem, encontra-se certamente alguém com condições para o acompanhar. Talvez num sector afim...
Parabéns, caro Carlos Martins!
Cordiais saudações de Abril
Vasco Lourenço

As Ordens Profissionais

As Ordens Profissionais actuam com poderes delegados pelo Parlamento, única e exclusivamente para “regular o exercício da Profissão”

Escrevo  com  muito conhecimento de causa.

Presidi  durante quase  uma década, à Comissão Executiva do Conselho Nacional das Ordens Profissionais, o chamado Conselho de Bastonários.
Já antes, na década  anterior, tinha integrado  o Conselho Nacional das Profissões Liberais, que  antecedeu  o Conselho Nacional das Ordens.

Conheço, pois, como as minhas mãos, a historia das últimas décadas de cada Ordem Profissional, as especificidades de cada uma das Profissões Reguladas e o quadro legislativo e normativo  que as regula e lhes confere poderes delegados pela Assembleia da República, agora, através da  nova  Lei-Quadro das Ordens Profissionais.

Ser Bastonário,  era, nesses tempos,  uma distinção  muito importante. Sempre, pessoas e  profissionais  da maior competência, pessoas integras e dispostas a exercer cargos e mandatos   sempre pro bono, que os Estatutos impediam qualquer remuneração aos dirigentes e Bastonários.   Movimento associativo  na sua pureza.

Passaram  "por mim"   Bastonários como  Pires de Lima, Germano de Sousa,  o Enfermeiro Germano Couto, a Enfermeira Maria Augusta de Sousa, Maria Irene Silveira, Pedro Nunes, José Manuel Júdice, Rogério Alves, Marinho Pinto, José Manuel Silva, o Prof. Carlos Ribeiro, Maria de Jesus Serra Lopes e Castro Caldas nos Advogados  e  muitos outros.

Sempre, mas sempre mesmo,  foi observada  com  todo  o rigor   uma regra simples mas essencial  ao funcionamento e entendimento de todas as Ordens e Profissões naqueles fóruns comuns.
A regra que  distinguia completamente as Ordens dos sindicatos de cada profissão e outra que impunha que ao Conselho  apenas interessavam  os pontos, aspectos e assuntos transversais a todas as Ordens e Profissões. Se assim não fosse, dadas as especificidades e diversidade de todas elas,  não haveria entendimento  e dialogo possível.

Por isso, vi  com  muito agrado  a passagem  como Bastonários de pessoas que vinham  directamente do movimento sindical, dos sindicatos, como o Dr.  Pedro Nunes nos Médicos e Maria Augusta de Sousa, nos Enfermeiros, para dar dois exemplos agora muito elucidativos.

E, nunca por nunca,  qualquer destas pessoas, Bastonários, misturou  os respectivos papeis. Uma vez Bastonários,  foram  sempre os assuntos e matérias relativos ao exercício das respectivas profissões, para os quais tinham poderes delegados pela Assembleia da República,  que  os norteou.

Vejo, pois, com  grande perplexidade  e  enorme  tristeza, pelo manifesto mal que causam a prazo ás respectivas Ordens e Profissões,  as intervenções públicas de Bastonários recentemente eleitos, como no caso dos Enfermeiros e dos Médicos,  a promiscuidade  de  actuação  privilegiando  a  política pura e dura e a esfera sindical  em detrimento  das questões referentes ao exercício da profissão.

As Ordens Profissionais  actuam com poderes delegados Pelo Parlamento, única e exclusivamente para “regular o exercício da Profissão”, cada uma delas.  Assim, sendo que uma Ordem ultrapasse ou desvirtue esses poderes delgados pela Assembleia da República, o Parlamento  poderá  a todo o momento  retirar as competências a essa Ordem, que mais não é que uma associação publica.

NÃO  É POIS ADMISSIVEL QUE UMA ORDEM  OU UM SEU BASTONÁRIO   apareça publicamente com uma capa que  aparente não ser a figura institucional de Bastonário,  a imiscuir-se na política pura e dura, encomendando pretensas auditorias, relatórios e pareceres ou  mesmo nas questões sindicais da profissão  ou  a  angariar  fundos  para questões que ultrapassam  a sua função de regulador  e verificador  das competências dos profissionais para exercerem  aquela e só aquela profissão específica.  Uma vez empossado Bastonário, é-o  a todo  o momento e em todo o lado, não é possivel  despir as competências e funções institucionais.

Confesso  que,  nos tempos mais recentes,  tenho sentido  uma enorme tristeza   na constatação  de que  os pressupostos que enunciei  para as Ordens e os Bastonários  não  são  agora observados.

Lamentável, penso até que ilegal à luz da Lei Quadro das Ordens Profissionais.  Desvirtuando-se e confundindo-se os papeis e actuações, haveria lugar, penso, a que fosse revista ou retirada, nesses casos, a delegação de Poderes atribuída pelo Parlamento.

A credibilidade e honorabilidade de um Bastonário, desses tempos idos,  não  se compadeciam  com  a mistura  nas lutas políticas.  Um Bastonário  desses anos, entendia e cumpria  que representava profissionais ideologicamente situados em todo  o espectro politico. Por isso mesmo,  deixavam a política aos Partidos  e dessa forma  adquiriam maior  independência,  credibilidade  e maior  poder negocial  e representativo  para as Ordens,  para  as  respectivas  Profissões Reguladas.

Carlos Pereira Martins

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