Os velhos, as orelhas e as próteses (minicrónica do quotidiano)

As orelhas que, na infância, servem para mostrar a vigilância das mães sobre a higiene e o seu vigor a esfregá-las, adquirem, com o tempo, novas funcionalidades.

Os velhos, quando não usaram óculos na infância, começam, então, a suportá-los. Vêm, depois, os aparelhos auditivos. A pandemia veio acrescentar a máscara com os elásticos a segurá-las nas orelhas.

Como são um grupo de risco, especialmente preferido pelo coronavírus para a sua tarefa devastadora, é prudente, em aglomerados, que acumulem a viseira para a proteção que a multiplicação de moléstias, que a idade traz, exige.

É na ida ao café, quando da chávena aquecida saem eflúvios convidativos à degustação, e, inebriados, nos apressamos a tirar a máscara, a bebida não pode ser saboreada sem a retirar, que nos damos conta de que um dos aparelhos ficou dependurado, os óculos se deslocaram para a ponta do nariz e a viseira caiu sobre a mesa.

É então que nos apercebemos de que o único par de orelhas é exíguo para a parafernália de próteses a que as submetemos.

É a idade. Um par de orelhas é insuficiente para tanta serventia, e ai de quem não souber rir da vida que frui. É porque está a deixar-se morrer por dentro.

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