Notas Soltas – agosto/2020
Donald Trump – Acossado por sondagens adversas e pelo
desnorte com a COVID-19, sugeriu o adiamento das eleições, enquanto radicalizava
o discurso para manter exaltada a base de apoio, e antecipava acusações de
fraude, para justificar uma eventual derrota.
Comissão Europeia – A presidente, Ursula von der Leyen, prepara
um ataque legal aos países com vantagens fiscais para multinacionais, Irlanda,
Luxemburgo, Holanda, Malta e Bélgica. Se se confirmar a notícia do Financial
Times, Bruxelas vai no bom caminho.
Juan Carlos – A emigração do rei emérito, investigado
por corrupção, sem honra, sem glória e sem a rainha, é um rude golpe na monarquia
espanhola e um prenúncio de que a dinastia que iniciou findará no filho que lhe
deu a guia de marcha.
Beirute – A cidade que há meia dúzia de décadas era
cosmopolita, cheia de vida, estava ferida com a guerra. Depois do brutal
acidente que levou a destruição e a morte, tornou-se um pungente campo de
escombros, a caminho de ser a ex-capital de um País inviável.
PR – A devolução à AR da nova Lei do Mar, para clarificação
do diploma, foi correta. A deriva legislativa transferiu para as Regiões
Autónomas poderes privativos do Estado, agora reincidente com uma lei da
soberania regional das zonas marítimas.
Hong Kong – A China enjeitou definitivamente a Declaração
Conjunta Sino-Britânica de 1984. Xi Jinping antecipou o fim das liberdades, que
estavam garantidas até 2047, e a mão chinesa já se sente nas prisões
arbitrárias e na opressão no território.
COVID-19 –
Sem uma solução previsível, o mundo continua a empobrecer, a economia a
declinar, o desemprego a subir, o medo a atrair soluções autoritárias e os
organismos internacionais credíveis, ONU, OMS e outros, asfixiados com a falta
de recursos.
Extrema-direita – Como no resto da Europa, esquecida da
década de Trinta do século passado, e do advento do nazi-fascismo, já aí a
temos, e nunca tinha levado tão longe o atrevimento, a tentar intimidar e
chantagear deputadas e personalidades antirracistas.
Israel/Emirados
Árabes – O Acordo de Paz, mediado
pelos EUA, garante a suspensão das anexações na Cisjordânia, relança as relações
diplomáticas, amacia as acusações de corrupção a Netanyahu e beneficia Trump. Encenação
ou terramoto geopolítico?
Bielorrússia – A multidão da “Marcha pela liberdade”, em
Minsk, contestou Aleksandr Lukashenko, que recusa repetir eleições e “nem morto”
permitirá a entrega do país. Está a ser um corajoso desafio ao ditador, há 26
anos no poder, que só as armas perpetuam.
Angola – A PGR ordenou o fecho dos templos da IURD,
por “indícios suficientes da prática dos crimes de associação criminosa, fraude
fiscal, exportação ilícita de capitais, quebra de confiança e outros atos
ilegais”. É um precedente prematuro e perigoso.
Espanha – A exigência do Podemos, partido que
participa no Governo, para que o rei retire o título de ‘rei-emérito’ a Juan
Carlos é um ato demagógico. Fere o filho e crispa a opinião pública, sem obter
vantagens eleitorais.
COVID-19 – Os anúncios da descoberta de uma vacina
pela Rússia e outra pela China, embora portadores de esperança, visaram mais
objetivos de propaganda política do que revelaram sobre a efetiva descoberta de
uma solução eficaz e segura.
Ecologia – Os dados que chegam sobre a poluição dos
oceanos, a escassez de água e a degradação do ambiente, no único planeta que
nos coube, é um motivo mais assustador para a sobrevivência humana do que a
pandemia que nos aflige e cujo fim é incerto.
Steve Bannon – Ideólogo de Trump, Bolsonaro e Salvini,
apóstolo do extrema-direita europeia, foi preso por apropriação de fundos da
campanha para a construção do muro com o México. Libertado sob fiança de 5
milhões de US$, não regressa à Casa Branca.
Brasil – O aborto da menina de 10 anos, violada pelo
tio desde os 6, gerou a violência de grupos evangélicos e da extrema-direita. O
bispo católico, presidente da Conferência Episcopal, Walmor Oliveira, considerou
essa IVG “um crime hediondo e inexplicável”.
Revolução de 1820 – No dia 24 de Agosto celebrou-se o
2.º Centenário do dia escrito a letras de ouro no devocionário democrático. Foi
o fim do absolutismo monárquico, data emblemática dos raros momentos históricos
do calendário da liberdade, em Portugal.
Miguelismo – É o nome do extremismo protagonizado pela
violência sanguinária do rei D. Miguel. É a visão retrógrada e populista de que
vive a extrema-direita atual. O 24 de agosto de 1820 iniciou o constitucionalismo
português, ainda vivo na CRP de 1976.
PSP – A queixa-crime contra o Público, pela
publicação de um cartune que assumiu como ofensa, é um inquietante barómetro do
que a direção da polícia pensa da liberdade de expressão. Parece preocupá-la
mais um desenho do que eventuais infiltrações nazis.
Crime informático – Os perdões da eventual violação dos emails,
pela ex-PGR, Joana Marques Vidal e juiz Carlos Alexandre, obstando à investigação
e julgamento, mais do que a bondade cristã das duas personalidades, fica a
suspeita sobre o teor dos conteúdos.
SNS – O futuro da maior conquista de Abril, no
salazarismo nem funcionários públicos tinham assistência médica, dispensava bem
o ruído mediático dos bastonários da Saúde, aparentemente interessados na
privatização da saúde e na luta político-partidária.
Aquecimento global – O negacionismo não se
coaduna com incêndios cada vez mais frequentes, duradouros e destruidores que
surgem por todo o mundo. Os da Amazónia e Califórnia são a metáfora dantesca de
um Planeta a arder e a sufocar a vida.
Comentários
Discordo de algumas da suas notas soltas como, de resto, é normal.
A raiz da discordância encontro-a no seu confessado soarismo; coisa que na minha liberdade de pensamento não considero - e para não ser deselegante - nada benigna.
Continuarei, naturalmente, a acompanhar os seus posts que muito aprecio.
Cordialmente,
João Pedro
Orwell dizia do comunista e do católico que nunca conseguiam discordar de alguém considerando essa pessoa como simultaneamente inteligente e honesto...
E já, agora, não quer elaborar quais as notas de que discorda? Não serão por acaso as sobre Hong Kong, a Bielorrússia e Angola?
É que se haveria coisa com que Mário Soares concordaria seria com a defesa da Democracia e do Estado de Direito em toda a parte. Viva Mário Soares!