A laicidade é a vacina contra as guerras religiosas – 2
Sinto-me sempre horrorizado com crimes sectários de natureza religiosa. Hei de voltar ao caso do sequestro em sinagoga no Texas que terminou com a libertação dos reféns e a morte do sequestrador, mas, antes, regresso à laicidade que bandos de beatos, de mãos dadas com políticos oportunistas, traem em países republicanos e laicos.
As guerras religiosas são um flagelo devastador neste novo
milénio. A orgia de horror e crueldade deve ser contida onde quer que tenha
lugar, seja qual for o credo. O Estado e as Igrejas têm de ser obrigado ao
regime de separação.
A fragilidade no combate aos crimes religiosos resulta da
conivência entre Governos e Igrejas maioritárias. A separação é insuficiente e
a laicização, único remédio eficaz, não foi ainda conseguida apesar da
crescente secularização das democracias. O proselitismo é a manifestação da
vocação totalitária, e o poder temporal uma obsessão clerical.
A globalização acirrou ódios entre as religiões e estas
aspiram a excluir a concorrência. Compreende-se a virulência das que se sentem
mais ameaçadas. É no auge da crise que se atinge o apogeu da fé e a vertigem do
martírio.
O XV Congresso do PPE, em outubro de 2002, aprovou no
Estoril a alusão à defesa do património cristão no projeto de Constituição da
Europa. Foi um erro e uma provocação às outras religiões do livro. Se a
abolição das fronteiras nacionais era o objetivo, criar fronteiras religiosas
foi um paradoxo.
A Europa não tem de ser católica, protestante ou ortodoxa,
tem de ser laica e humanista. No genocídio de seis milhões de judeus pelos
nazis, embora de origem secular, pesaram preconceitos cristãos.
A democracia é filha do combate à origem divina do poder. A
ausência deste combate criou a apoteose do fascismo islâmico.
É imprescindível a neutralidade religiosa do Estado e este
rege-se pelas suas leis, laicas, e nunca pelos mandamentos de um qualquer
credo. O laicismo recusa a pusilanimidade e combate todos os atentados aos
direitos humanos e à igualdade entre os sexos, quer sejam oriundos de
sinagogas, igrejas, mesquitas ou de qualquer outro templo.
A liberdade religiosa é uma conquista civilizacional. Não
pode permitir a impunidade de crimes que se cometem à sombra de um livro
sagrado. Aprendi o catecismo terrorista que ensinava a odiar judeus, infiéis,
comunistas e maçons e fiz a comunhão solene vestido de cruzado.
Conheço as perversões que a fé e a ignorância podem
produzir.
Deus podia ter sido uma ideia interessante, mas tornou-se um
pesadelo.
Comentários
O conhecimento de Deus parece-me, de longe, preferível à dependência de qualquer fé ou crença.
Desenvolvi o tema em https://mosaicosemportugues.blogspot.com/2021/07/afinal-deus-existe.html, onde aguardo, com o maior interesse, o seu comentário.
Na mesma área de comentários, poderá ter interesse a leitura de, por vezes extensas, trocas de impressões com alguns leitores que contestaram a minha conclusão.
Como ateu, não sei responder a crenças místicas. Registo-as, mas não as compreendo.
Não tenho qualquer crença em qualquer divindade. Apenas procurei, pela lógica pura, demonstrar a existência de uma razão criadora.