A União Europeia (UE) e as eleições presidenciais dos EUA
É surpreendente ver a extrema-direita a defender a paz e os democratas a guerra, mas a maior surpresa é ver democratas crispados com quem, independentemente da bondade, tem um prognóstico diferente para o desfecho da guerra na Ucrânia ou, apenas, receia uma guerra nuclear.
Surpreendo-me com os americanos que votam Trump, capazes de reconduzir o psicopata mitómano, boçal e misógino, à presidência dos EUA, mas a maior surpresa é encontrar na UE quem exclua tal hipótese.
Surpreende-me quem considera Kamala Harris uma extremista de esquerda, o habitual da direita para referir os adversários de esquerda, mas surpreende-me ainda mais quem considera virtuoso o Partido Democrata dos EUA perante a insensibilidade com o genocídio na Palestina e o reiterado apoio a Israel.
Surpreende-me quem seja entusiasta da guerra, de qualquer guerra, mas surpreende-me ainda mais quem quer a sua continuação na Ucrânia até ao último ucraniano e à eventualidade de um conflito global.
Independentemente da bondade do apoio à Ucrânia na guerra contra a Rússia surpreende-me que a UE não pondere um desfecho adverso ao que considera adequado à superioridade moral do país que apoia.
A política externa dos EUA, de acordo com os seus interesses geoestratégicos, não modera o apoio da UE às guerras em que se envolve, como se viu no Iraque, na Sérvia e em tantos outros países.
Quanto à guerra Israel / Palestina o Partido Republicano é ainda mais amoral e violento. Trump transferiu a embaixada de Telavive para Jerusalém numa provocação gratuita, ilegal à luz dos tratados internacionais, sem reparo da UE, mas em relação à guerra na Ucrânia a UE não admite que os EUA a deixe com as dívidas e a incapacidade de prosseguir sozinha uma guerra para a qual não tem recursos.
Quando a propaganda deixar que os factos sejam divulgados saber-se-á que a popularidade do apoio à guerra está a baixar drasticamente nos países europeus. E ninguém consegue perpetuar uma guerra contra a opinião pública dos seus povos.
Dividir os europeus em putinistas e democratas é um maniqueísmo intolerável. Se sobrevivermos veremos as cambalhotas dos entusiastas belicistas para aceitar a eventual vitória de Trump.
Claro que a vitória de Trump é a derrota da decência, da luta contra as alterações climáticas, da previsibilidade das relações internacionais e da própria UE que apostou tudo na vitória de Biden e agora de Kamala.
Sei quem prefere a maioria dos europeus entre Kamala a Trump, mas são os americanos que votam.
Comentários
No entanto, não consigo perceber o que pretende dizer quando escreve que "...em relação à guerra na Ucrânia a UE não admite que os EUA a deixe com as dívidas e a incapacidade de prosseguir sozinha uma guerra para a qual não tem recursos." . É que, na minha leitura dos factos, a UE é incapaz de fazer qualquer oposição à política dos EUA e admitirá qualquer solução que estes patrocinem, mesmo contra os seus interesses. Veja-se, por exemplo, que a Suécia encerrou as investigações sobre a destruição do Nord Stream, dizendo que não conseguiu identificar os autores do acto; e Scholz, vem tecer todos os encómios a Biden, agora que foi empurrado, bem sabendo que este tinha anunciado, na sua presença, a hipótese de tal gasoduto poder ser rebentado pelos americanos.
Obrigado pelo seu comentário. Há cerca de duas mil visitas diárias a este blogue e raramente há comentários. E sabem bem, mesmo quando são desfavoráveis, o que não é o caso.
Estou de acordo com a sua crítica à UE. A destruição do Nord Stream é mesmo um exemplo brilhante da vocação suicida da UE e particularmente do país mais afetado - a Alemanha.
É razão para me lamentar: Europeísta sofre…
Não respondi à sua dúvida: "...em relação à guerra na Ucrânia a UE não admite que os EUA a deixe com as dívidas e a incapacidade de prosseguir sozinha uma guerra para a qual não tem recursos."
Na minha opinião não acredita, dá como certa a vitória de Kamala. Depois de dar como certa a Vitória de Biden. E corre o risco de ficar em guerra com a Rússia e os países que se realinharam, entre os quais a China, ou seja, os atuais BRICs.
Debater ideias faz bem e é apanágio daquelas gerações despertas que viveram anos sob o regime fascista.
Se se mantivesse tal hábito, talvez o senhor tivesse mais comentários aos seus escritos. Se bem ajuízo, os poderes que contam conseguiram moldar as ideias das pessoas transformando-as em pensamento único subvertendo os valores essenciais da Democracia. Só assim consigo entender o adormecimento das pessoas face à questão pungente das guerras na Ucrânia e na Palestina. Nós, os ocidentais, estamos tão fanáticos como aqueles que nos habituámos a tratar desse modo. Insistimos em nos considerar excepcionais para desse modo podermos justificar as "nossas guerras santas", sem nos apercebermos que os "outros" já não estarão abertos a aceitar esse nosso argumento e que teremos de nos habituar a viver com a diversidade e as diferenças culturais que as sociedades humanas comportam, procurando resolver as divergências pelo diálogo, no respeito pelos interesses de todos. Como o senhor, gostava de poder continuar a considerar-me um europeísta convicto, mas as razões de esperança que me animam são poucas. Ainda agora, acabei de acompanhar o discurso de Netanyahu no congresso dos EUA e a reacção daqueles congressistas, tudo num espectáculo perfeitamente lamentável! E pouco importará se a UE não "admite" que ganhe Trump ou "acredita" que vencerá Kamala, pois essa não é a questão: facto é que o mundo estará a mudar e novos paradigmas serão estabelecidos, certamente. Estará a nossa classe dirigente à altura do momento histórico que a humanidade vive?