Divagando 34 – Os votos de Santo Natal e outras inanidades

Divagando 34 – Os votos de Santo Natal e outras inanidades

Não quis nem tive paciência para ouvir trivialidades de quem se julga importante para as debitar sob os holofotes televisivos, mas apanhei com excertos nos média.

Do bispo de Lisboa ao Nuno Melo, de Marcelo a Montenegro, julgaram-se pequenos deuses no seu Olimpo, convencidos de importância própria e do apreço dos mortais.

A forma e a substância regressam devagar ao antigamente e, sendo cada vez menos os que recordam os próceres da ditadura, vale a pena trazer à colação os «votos de Santo Natal», fórmula que só as beatas e os tartufos ousavam. As pessoas normais desejavam Feliz Natal ou, de forma mais usual e ecuménica, votos de Boas-Festas.

Na memória da democracia ficou essa inovação, julgada idiossincrasia, quando Cavaco e a sua prótese, D. Maria, em jeito de jograis, findaram uma mensagem em uníssono: «(…) desejamos um Santo Natal». Foi o momento Zen do casal a hilariar o País.

Este ano o despautério chegou às redes sociais, sem que os autores quisessem promover a virtude ou execrar pecados, em ataque inglório à gula, luxúria e demais interditos pios.

Montenegro, na sua mensagem, desejou um Santo Natal, expressão tão adequada como o esgar com que substitui o sorriso, e falou de «jogar sempre para ganhar», esquecido do estado do SNS que prometera salvar, sem quaisquer palavras de solidariedade ou de desculpa aos doentes, desesperados por atendimento.

E atingiu o paroxismo através de metáforas desportivas para referir que «A minha [sua] opção e do governo é claramente» a «mentalidade de Cristiano Ronaldo». Sem o brilho inigualável do atleta nos estádios, fica a dúvida se é a cumplicidade de Ronaldo com o regime da Arábia Saudita, o fascínio de Trump, ou ambos, que galvanizam Montenegro.

Depois da prenda de Natal de Santo Amadeu Guerra, o santo CEO da Spinumviva, após desejar um Santo Natal aos portugueses, por incúria no concurso internacional, deu uma santa prenda de Natal, a prorrogação dos contratos, aos casinos Estoril-Sol e Solverde.

Com tal santidade, penso em cada um dos mensageiros que desejaram um Santo Natal e ocorre-me o epíteto de Camilo a Frei Gaspar da Encarnação, «uma santa besta», epíteto que não lhes atribuo por três razões, por respeito às funções, por benevolência e porque jamais os imaginaria santos.

E ainda falta a mensagem de Santo Ano Novo!




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