O Chega, a degradação do regime e os perigos para a democracia
O Chega, a degradação do regime e os perigos para a democracia
A
intolerância e a agressividade não nasceram no seio do partido que um
dissidente do PSD criou à sua imagem, matriz neoliberal enxertada em ideologia neofascista.
A
agressividade é própria do combate democrático e o radicalismo uma
circunstância. O que é novo é a sua migração para o aparelho de Estado e para
os órgãos democráticos da conduta nascida no comentário futebolístico
televisivo e ampliada nas redes sociais.
Antes do
Chega, já se exploravam delitos pessoais para os generalizar aos partidos dos
prevaricadores, mas não se espreitavam alcovas pelo buraco da fechadura. As
mentiras e calúnias não chegavam ao Parlamento nem tinham eco na comunicação
social.
É justo
referir que durante muitos anos não houve dirigentes do PCP, PS, PSD ou CDS a
lançar suspeitas, muito menos calúnias, sobre adversários. O combate era
vigoroso, mas leal, debatiam-se ideias políticas e poupavam-se insultos e
difamações.
Foi aqui
que o Chega inovou. À intolerância e agressividade acrescentou-lhes o ódio, a
calúnia e a mentira sistemática. Depois antecipou-se a explorar as redes
sociais para as suas campanhas onde se extravasam raivas, frustrações e
invejas.
Na
vertigem reacionária, o PSD viu a oportunidade de ser o partido charneira do
poder. Com homens em Belém e S. Bento, assumiu o discurso do Chega, diabolizou
toda a esquerda e babou-se de gozo com o crescimento da extrema-direita e a neutralização
da ação política do PS.
A falta de
pudor e de decência levou Montenegro a dizer que Pedro Nuno Santos tinha a
visão “comunista, socialista e bloquista” e Pedro Aguiar Branco, depois de lhe
dever o lugar de presidente da AR, entusiasmou um conclave partidário com a
diatribe «Pedro Nuno dos Santos fez pior à democracia em seis meses do que
Ventura em seis anos».
Foi com
estes homúnculos que se fez a alternância precoce com a direita, transição sem retorno.
Circulam entre a política, os negócios e a sacristia, preferem a
extrema-direita à social-democracia e parecem insensíveis à ética política e ao
futuro da democracia.
O Chega é apenas a explosão despudorada dos nostálgicos da ditadura, o representante de 1/3 dos portugueses que gostavam de ter colónias, da geração sem memória em que o autoritarismo, a censura e as verdades únicas deixaram de ter anticorpos.

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