Interrupção voluntária da gravidez
O Presidente da República pronunciou-se ontem, em Paris, sobre o que pensa da perseguição às mulheres que recorrem ao aborto. Com o ar envergonhado de quem tem no seu país uma lei obsoleta e radicalmente persecutória em relação às mulheres, lembrou a sua posição de sempre e defendeu uma «solução equilibrada» para o problema.
A direita cavernícola, talvez para mostrar que o CDS ainda existe, resolveu criticar o PR, pela voz do inefável deputado Telmo Correio, que afirmou: «Não faz sentido que o Presidente da República anuncie ser favorável a uma posição uma vez que vai haver referendo».
Telmo Correia defende a manutenção de uma lei que permite a detenção de mulheres à saída de «clínicas», as escutas telefónicas, a violação da sua vida íntima e a ameaça constante de julgamento e prisão.
Os que hoje se opõem à liberalização do aborto são os mesmos que votaram contra a despenalização nos casos de violação, fetos com malformações graves ou risco de vida da mãe, situações que a lei contempla e que nem os mais trogloditas contestam já.
A direita cavernícola, talvez para mostrar que o CDS ainda existe, resolveu criticar o PR, pela voz do inefável deputado Telmo Correio, que afirmou: «Não faz sentido que o Presidente da República anuncie ser favorável a uma posição uma vez que vai haver referendo».
Telmo Correia defende a manutenção de uma lei que permite a detenção de mulheres à saída de «clínicas», as escutas telefónicas, a violação da sua vida íntima e a ameaça constante de julgamento e prisão.
Os que hoje se opõem à liberalização do aborto são os mesmos que votaram contra a despenalização nos casos de violação, fetos com malformações graves ou risco de vida da mãe, situações que a lei contempla e que nem os mais trogloditas contestam já.
Comentários
Já levou criticas de Cardeais que dizem que Lula não é Católico e sim Caotico.............
Imagina se fosse defender aborto
Porquê tanto rancor por quem tem posições diferentes das suas? Será que é também troglodita quem, há 20 anos, na AR, votou contra os projectos "liberais" do Partido Comunista, em que se inclui a esmagadora maioria dos deputados do Partido Socialista? Será que é troglodita o António Guterres dos nossos dias, que o senhor tanto admira?
Como eu gosto de tantos homens e mulheres que se cruzaram na minha vida, não obstante em tantas coisas pensarem diferentemente de mim?
Por estranho que lhe pareça, como Pascal, eu aposto em si, porque, na dúvida entre existir ou não existir a vida, eu opto pela vida. Pela sua! E, já que nos cruzámos na vida, pela nossa!
Um abraço,
CR
António Guterres, que efectivamente admiro e respeito, teve, na questão do aborto, uma posição incorrecta. Ser pela despenalização do aborto não é ser favorável ao aborto.
O aborto é certamente uma tragédia, como são teríveis e pouco louváveis o dultério ou o divórcio.
E o que quer o leitor, que sejam presas as pessoas adúlteras e os divorciados?
A repressão policial é o pior caminho para diminuir o número e as sequelas do aborto - penso eu.
Os crentes têm certezas, eu tenho dúvidas. Mas opto pela tolerância e, no caso do aborto, pela despenalização.
Seria incapaz de me sentir bem com a consciência se fosse responsável pela prisão de uma mulher que abortou.
Muito obrigado pela consideração que lhe mereceram as minhas palavras.
Vou ater-me, agora, ao teor da sua réplica, incluindo o que lá não está. Começo por este ponto, porque não justificou as palavras, a meu ver ofensivas e desnecessárias, que antes utilizou. Refiro-me, especialmente, mas não só, a "troglodita". Não sou nem um homem das cavernas, nem um incivilizado.
Por outro lado, o seu discurso não é claro: tanto utiliza, agora, a palavra "despenalização" como utilizou, antes, a palavra "liberalização". Será que significam o mesmo? Como qualifica o projecto de Maria do Rosário Carneiro e de Teresa Venda, cuja discussão na AR não chegou a ser agendada?
De qualquer maneira, eu não me referi à questão em apreço, desta maneira tão reduzida. O meu discurso centrou-se em torno da vida - da sua, da minha, da de todos nós - , que é um valor que não pode ser desprezado pela sociedade. Ainda que sejam apenas esperança de vida, só pelo facto de poderem vir a ser "pessoas", os embriões e os fetos não serão dignos do nosso amor? Acha que é uma situação substancialmente diferente da do drogado ou do miserável que batem fundo na vida? Não acha justo que lhes digamos, provando a sua própria vida e dando a nossa, que são esperança e que são vida? Não acha razoável que eles esperem isso de nós? Não valemos todos mais do que a raiz (é isso mesmo, a raiz) de um sobreiro, por mais rara que seja?
Pascal era crente, mas era um homem com dúvidas. Eu também tenho dúvidas, ao mesmo tempo que não julgo que o Carlos Esperança não acredite em nada, porque, nessa hipótese, não viveria. Pelo menos, acreditará na humanidade - e já não é pouco e muito nos une. Acredita e aposta nas mulheres que sofrem as dores traumáticas de um aborto. Também eu. E acho que, mais do que tudo, se não fizeram o aborto por capricho, precisam da nossa compreensão e do nosso carinho. Declarar que o aborto não é crime pode ser cómodo para as consciências, mas é fugir ao problema. É darmo-nos pouco. O problema é de falta de esperança e de amor à vida.
Não lhe parece?
A nossa vida já se cruzou. Até sempre!
CR
Agradeço-lhe a elegância com que expõe os seus pontos de vista, a desenvoltura com que os exprime e a serenidade com que os discute. É, de facto, um leitor que não merece a prosa vigorosa, quiçá, truculenta com que me exprimo.
Não vale a pena discutir aqui – creio – as diferenças entre liberalização, despenalização e descriminalização embora, por vezes, eu próprio as use com falta de rigor. Ambos sabemos o significado exacto.
Todavia, o que consta do meu texto é uma manifestação de inconformismo face à perseguição de que estão a ser vítimas as mulheres. Alguém abortará por prazer? Que dramas esconde o aborto? Em Aveiro, por exemplo, a PJ esperou-as à porta da clínica, depois de lhes ter violado por ordem judicial as comunicações telefónicas, e obrigou-as a serem observadas medicamente para provar o «crime».
Volto à minha argumentação anterior. O adultério é mau. E devem prender-se os adúlteros? A mulher de um amigo meu teve uma gravidez com um feto incompatível com a vida. Quis abortar. Passou meses sem que os hospitais lhe resolvessem o problema ( e se queriam um filho!!) e os objectores de consciência recusaram-se a fazer-lhe o aborto. Foi preciso que morresse no útero para lho retirarem aos bocados. A vida da senhora esteve em perigo. Foi justo?
Abortar não é uma obrigação mas impedir os outros, em situações graves, é, no meu ponto de vista, um preconceito. Eu amo profundamente a vida. É por isso que me bato por uma vida digna. É por isso que defendo o direito (não falo da obrigação) ao aborto. Perseguir mulheres que o tenham feito é um acto desumano e anacrónico. É a minha posição.