Viva o 25 de Abril.


Trinta e um anos decorridos sobre a manhã libertadora de Abril, parecia já que a memória definhava sob a ameaça de uma dupla de estarrecer - Santana/Portas. Tinham um projecto político e um objectivo para cercear a democracia. Perdeu-os a ausência de um plano para governar Portugal.

A reabilitação da guerra colonial estava em curso, o regresso dos velhos valores tinha um discurso, uma lógica e um projecto, seguidos pelos que nunca se conformaram com a perda do Império e o descrédito da ditadura.

Era o regresso mole a uma dura forma de governo.

Em Portugal, onde a memória é curta, já se tropeça no branqueamento dos crimes da ditadura. Foi preciso que um Pide contasse, há anos, numa versão pouco credível, embora, como a Polícia assassinou o General Humberto Delgado para, de vez, destruir a cabala de que os correligionários o teriam feito para criar um mártir. Como se a liberdade precisasse de tantos mártires, como se a dignidade de um Povo precisasse de justificação, como se a democracia tivesse de pedir licença para existir.

A descolonização fez-se, o desenvolvimento aconteceu, a democracia vai-se fazendo de forma lenta, com recuos, com o agravamento obsceno das desigualdades sociais, sem o entusiasmo, a generosidade e o espírito solidário com que os capitães de Abril contagiaram Portugal. Mas nada, absolutamente nada, pode ser pior do que o Portugal beato, rural e analfabeto que o salazarismo manteve graças à repressão policial.

Acabou a PIDE, as prisões políticas, a censura, o degredo, o exílio, a tortura, a discriminação da mulher, a violação do domicílio e da correspondência. Restauraram-se os direitos cívicos, implantou-se a democracia. É pouco? Nunca tão poucos fizeram tanto por Portugal - capitães de Abril.

O País não era a casa comum dos Portugueses. Era a cela colectiva dos que não fugiam. O 25 de Abril transformou Portugal. Tanto tempo nas nossas vidas, tão pouco na história de um povo.

Viva o 25 de Abril. SEMPRE.
Carlos Esperança Posted by Hello

Comentários

Anónimo disse…
Texto excelente. Com uma imprecisão. O Portugal beato, rural e analfabeto, continua a ter muito peso e até, a maior parte do tempo desde 1974, a governar o País. Sempre houve beatos, rurais e analfabetos no governo, nas autarquias, nas empresas públicas. E infelizmente no PS estes exemplos não faltam. Será preciso lembrar nomes ou já fizeram a ligação ? Em Coimbra é coisa que não falta. Que desânimo !
Anónimo disse…
Nunca se desanima.Luta-se.
Anónimo disse…
Comemorar Abril é gritar LIBERDADE.
Parabéns ao autor do texto.
Anónimo disse…
25 de Abril SEMPRE!
Víctor Baptista nunca mais...
Gravatas disse…
Vou aguardar serenamente pelo que escreverão no 25 de Novembro...

Viva a Liberdade!
Viva quem sabe viver em liberdade...
Anónimo disse…
Onde está esse país livre? onde está essa casa comum? Homossexuais continuam a ter de esconder o mais belo dos sentimentos- o amor - apenas porque é impróprio admiti-lo, mesmo quando ele chega às cúpulas... O casamento, os efeitos sucessórios, a adopção, tudo lhes continua vedado. Onde está essa apregoada liberdade? Onde estão agora os libertadores?
Onde reside a igualdade de sexos? mulheres têm as mesma oportunidades efectivas que os homens?

Mensagens populares deste blogue

Divagando sobre barretes e 'experiências'…

26 de agosto – efemérides