O opífero Mundo Europeu…
O pedido de auxílio de Portugal à UE é notícia no Mundo. link; link ; link; … . Sobre esta nova situação existem múltiplas interpretações.
Primeiro, existe uma [excessiva?] expectativa que esta medida “acalme” os mercados financeiros. Todavia, esta expectativa não tem sustentação nos anteriores bailouts da Grécia e da Irlanda. A análise recente dos juros da dívida pública a 10 anos mostra os seguintes valores: Grécia - 12,5% e Irlanda - 8.9%. Os últimos juros atribuídos pelo mercado ao leilão de títulos de Tesouro a 10 anos portugueses foi de 8.3%. À primeira vista, mesmo sem intervenção externa, colocávamo-nos abaixo dos valores dos países já “resgatados” !.
Em segundo lugar, esta medida – apesar das repetidas declarações dirigentes políticos espanhóis – causa algum “pânico” em Espanha. Para quem observa a contínua pressão dos “mercados financeiros” sobre o euro não restam dúvidas de que a Espanha é o próximo alvo. A resistência de Portugal em solicitar auxílio externo funcionou como um escudo para a situação espanhola. Muito embora a situação espanhola seja diferente de Portugal [este é um slogan que usamos em Portugal em relação à intervenção na Grécia] a verdade é que “esse escudo” desapareceu. E, como sabemos, a UE continua a discutir [e a adiar] os processos e os meios para enfrentar globalmente a crise do euro… Pelo que, a Espanha não deverá estar tão descansada como aparenta. link
Terceiro, existe uma convicção generalizada de que o “auxílio externo” a Portugal ao resolver problemas imediatos de Tesouraria acarretará, inevitavelmente, um agravamento da situação económica. A reacção da bolsa, durante o dia de hoje, mostrou que a maioria dos bancos melhorou as cotações. Isto é, o “auxílio” é acima de tudo uma intervenção financeira. Mas este “auxílio” terá pesadas contrapartidas políticas, económicas e sociais que, extrapolando o âmbito bancário, acenam com o espantalho de uma longa recessão. E, a estagnação [ou a recessão] económica, terá como consequência uma contínua dependência de “auxílios externos”, o aprofundamento da dívida externa, descontrolos orçamentais, i. e., estamos a alimentar um circulo vicioso.
Por último, o pedido de “auxílio” externo de Portugal, foi recebido com alívio [entusiasmo] nos organismos da UE, está longe de representar para a Europa um período de tréguas face ao “assalto” dos mercados ao euro. É mais um negócio do mundo financeiro, a expensas de pesados sacrifícios de um povo, desenhado a médio prazo [3 anos?].
O Governo vai ter imensas dificuldades em consensualizar as contrapartidas que este “auxílio” necessariamente exigirá. Terá uma forte oposição dos sindicatos, dos partidos à esquerda do PS, e nos partidos do centro-direita [PSD e CDS], que têm defendido a intervenção externa, existem os primeiros sinais de distanciamento. O PSD ao desejar que este problema seja resolvido [definitivamente] pelo próximo Governo estará sub-repticiamente a insistir na tal "ajuda intercalar", tentando ganhar tempo até às eleições. Esta opção já foi liminarmente rejeitada pela UE. O CDS, por sua vez, foge com o rabo à seringa e, hoje, Paulo Portas introduziu um novo dado: “o apoio condicional”…
Continuam, portanto, muito precárias as condições políticas para efectivar este pedido de “auxílio” à UE através do FEEF e, tanto pior, em relação ao FMI. O Primeiro Ministro ao anunciá-lo envolveu o Presidente da República. Fez bem. Tornou impossível que Cavaco Silva continue a pairar à margem da crise limitando-se a cumprir o calendário constitucional. Veremos o que é essa tal “magistratura activa”. Na verdade, estamos no primeiro patamar da crise política interna, perante uma Europa exigente, mas sem coesão política e económica. Logo, inflexível e implacável nas questões financeiras.
Recordando Eça:
"Hoje que tanto se fala em crise, quem não vê que, por toda a Europa, uma crise financeira está minando as nacionalidades? É disso que há-de vir a dissolução. Quando os meios faltarem e um dia se perderem as fortunas nacionais, o regime estabelecido cairá para deixar o campo livre ao novo mundo económico". In “Distrito de Évora”... no longínquo ano de 1867!
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