O regime à deriva…
Bancos já decidiram cortar crédito ao Estado… link
A situação financeira que se gerou com a demissão do Governo continua, cada dia que passa, a mostrar aos portugueses penosas consequências.
A reunião “secreta” dos principais bancos portugueses efectuada no Banco de Portugal evidencia que deixou de haver estratégia política em relação ao gravíssimo problema da divida externa. O País está sem rumo e navega ao sabor dos interesses financeiros. Sejamos claros. Esta reunião terá acordado - entre outros assuntos certamente mantidos no “segredo” dos deuses – deixar de comprar mais dívida pública nos próximos meses e “forçar” um “pedido de ajuda intercalar (do Estado) à Comissão Europeia”.
Isto é, os grandes grupos financeiros decidiram parasitar o Estado, a viver uma situação de impasse político, e assumem – à revelia dos poderes democráticos - as rédeas da condução dos negócios públicos. O Estado, nesta enviesada concepção, será o “moço de recados” que servirá para negociar com a Comissão Europeia uma ajuda [intercalar?] de acordo com a visão do sistema bancário. Depois, essa "ajuda", provavelmente, servirá para capitalizar os bancos para as futuras provas de resistência [stress] que a UE fará num futuro próximo... Bem, já basta o caso BPN e BPP. Estes dois descalabros [a que devemos somar o do BCP] deveriam ter incutido algum pudor ao sistema bancário…
Este “pedido de ajuda intercalar”, parece ser uma modalidade desconhecida pela Comissão Europeia. link Mas na hipótese de ser viável necessitaria, com certeza, de um aval político que incluiria um novo pacote de medidas de austeridade [um PEC IV-A]. Sobre isso, os bancos não se prenunciam [pelo menos publicamente], nem se comprometem …
A estratégia do mundo financeiro é sobejamente conhecida. A paulatina imposição de uma agenda neoliberal a todo um povo, sob a permanente ameaça do “papão" dos mercados, começa a ser intolerável.
De facto, é espantoso. Como no século XXI o sistema financeiro se dedica a reinventar a pólvora. Impõe uma “revolução neoliberal” contornando custos políticos e sociais. Basta agitar o espectro do mercado. O mercado tornou-se plurifacetado: é simultaneamente o misericordioso, o filantropo, o insondável, o tíbio, o verdugo e, nesta crise, uma poderosa e fulminante arma política, capaz de protagonizar um novo modelo de “revolução” política, económica e social, silenciosa [sem levantamentos, motins, insurreições, etc.], mas tremendamente eficaz…
Começa a ser imperioso um rápido regresso à primazia do poder político [de emanação popular] sobre poderes financeiros e económicos emergentes. Isto é, a aceitarmos este caminho, adicionaremos às actuais crises, uma outra mais grave: a perversão do regime democrático. Que entra numa perigosa deriva.
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