O ex-banqueiro é um ingrato
Depois de ser preparada em sua casa, em lauto jantar, a
primeira candidatura de Cavaco Silva à presidência da República, repasto para o
qual os anfitriões convidaram também os casais Marcelo e Durão Barroso, pensou
que, nove anos depois, os vários apoios à candidatura exigiam mais do que uma
declaração vigorosa sobre a solidez do BES.
O PR já negou que alguma vez se tivesse referido ao BES,
problema de memória que o País lhe pode avivar. Ricardo Salgado prejudicou
gravemente o País com as trapalhadas do GES/BES, fala-se em mais de 20 mil
milhões de euros, perdas violentas de postos de trabalho e perda da
credibilidade bancária do País. Devia ainda apresentar desculpas do patrocínio
à candidatura de um PR com tão débil memória.
Não admira que as preocupações com o seu Governo lhe causem
danos, pois recorda-se do respeito dos chefes de Estado e de Governo pela forma
como agora se comportam os portugueses, ao contrário do que sucedia antes. Que
bela figura de estilo, esta de chamar portugueses ao Governo! (Declaração de sexta-feira).
Difícil é lembrar-se de como adquiriu as ações da SLN, de
quem o alertou para tão rico negócio, a si e à encantadora filha, ou saber em
que notariado fez a permuta da Vivenda Mariani (Mari(a) + Aní(bal), nome
carinhoso que ficou no imóvel que a casa da Coelha substituiu.
Mas a prova mais cabal do estado lastimoso da memória é
ter-se esquecido da ida à Pide a preencher uma ficha onde indicou mais uma
testemunha do que as duas pedidas para o abonarem como pessoa de confiança do
regime, a fim de aceder a uns documentos para os seus trabalhos académicos.
Estava tão nervoso que escreveu «à» onde se exigia «há».
Quem um dia passou pela Pide, mesmo com passaporte, num
simples posto de fronteira, jamais esqueceu a atrapalhação e o terror perante o
olhar dos agentes, mas quem um dia entrou num posto da Pide ficou com medo,
raiva, ou ambos, gravados para sempre. Não precisava de ser torturado.
Só uma alma boa pode ter entrado numa delegação da Pide e
esquecer. Talvez por isso tenha concedido pensões a pides, por relevantes
serviços à Pátria, quiçá convencido de estar a recompensar filantropos de uma
instituição de beneficência.
Não se pode confiar mais num banqueiro que nos roubou do que
no PR que nos impôs a dilação do Governo até ao limite máximo do prazo de
validade constitucional, depois da demissão irrevogável do líder de um dos
partidos cúmplices.
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