Manoel de Oliveira (1908-2015)


A unanimidade à volta da obra após o desaparecimento de Manoel Oliveira é manifestamente artificial e protocolar. Na verdade, o realizador cinematográfico produziu uma extensa e diversificada obra filmográfica, com aspectos marcadamente polémicos e, tal característica, dividiu os espectadores e os cinéfilos. 
Esta concreta situação que a morte do cineasta alimenta e exacerba não é antagónica do reconhecimento da grandeza da sua obra, nem obscurece o seu contributo para a história do cinema em Portugal e, quiçá, no Mundo.
Já foi assim com César Monteiro e Manoel de Oliveira segue esse rumo por caminhos diferentes e por motivações estéticas divergentes.

Os filmes realizados por Manoel de Oliveira com o estilo característico de uma variante de ‘teatro filmado’, impregnados de uma grande densidade cénica e o uso criterioso da ‘palavra’  (declamada ou cantada), funcionaram como suporte de um peculiar ‘discurso fílmico’ que marcam a identidade deste grande e incontornável realizador.
Enveredou por uma radicalização da linguagem cinematográfica que marcou quase transversalmente os seus filmes e, tal modelo de criação (realização e produção), conquistou uma notável projecção internacional que não pode ser ignorada, nem deverá ser desvalorizada. 
Uma criativa miscigenação entre a Arte de Talma e a 7ª. Arte teve em Manoel de Oliveira um espantoso e talentoso ‘Mestre’ da realização e da concretização. Mais tarde (em 1956), depois do filme 'O Pintor e a Cidade', será o momento da Literatura vir a integrar este mix e dar-lhe conteúdo e amplitude.

A partir do fatídico acontecimento que representa a sua morte é previsível que a obra de Manoel de Oliveira renasça e seja objecto de mais profundos e melhores estudos e maior divulgação. 

Na realidade, Portugal, ontem, perdeu um enorme homem da cultura que influenciou de modo determinante o cinema português durante quase um século e os portugueses ficaram, cultural e artisticamente, mais pobres. O que para um País assolado por uma infamante pobreza material e pela ameaça de desagregação social que lhe está inerente, nunca poderá ser considerado como sendo um acontecimento menor ou despiciendo. 

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