NATO: a confusão, a perplexidade e o anunciado ocaso…


A última cimeira da NATO em Bruxelas trouxe à luz do dia o que desde há muito estava na forja.
A ‘aliança atlântica’ agoniza. O novo quadro geopolítico mundial veio introduzir novos eixos de equilíbrios - ainda muito instáveis - mas perfeitamente nítidos. As novas centralidades estão definidas e abarcam três encostas: Os EUA, a Rússia e a China. O resto é paisagem.
 
Há algum tempo que se verificavam estas mudanças. O papel da NATO, por exemplo, na questão ucraniana, revelou à saciedade como os equilíbrios tinham mudado.
A NATO foi incapaz de interferir nos arranjos conseguidos após a queda do regime de Yanukovich, parceiro de Moscovo, que usou tentar virar as costas à UE.
O resultado do ‘Euromaidan’, isto é, a ligação de Kiev a Bruxelas, revelou-se francamente desastrosa e para além de ter resultado num país divido entre a parte ocidental populista e cativa da extrema-direita e a de leste subsidiária de Moscovo deve acrescentar-se o custo da secessão e perda da Crimeia, parte não desprezível do seu território, pelo menos, em termos estratégicos.
Moscovo nunca aceitaria a perda da porta de entrada no Mediterrâneo subsidiária do Mar Negro. Os estrategas da NATO saberiam disso mas, mesmo assim, alimentaram as veleidades da 'ruptura ucraniana' – comandada por forças da extrema-direita, saliente-se - contra Moscovo, deixando-os depois entregues à sua sorte.
 
Não só alimentaram essa saga como impuseram à Europa o alinhamento em sanções contra a Rússia, sabendo que a área central deste Continente, nomeadamente a Alemanha, depende, em termos energéticos - logo de desenvolvimento - do gaz e petróleo russos link,  como Trump fez questão em sublinhar ('atirar' à cara de Merkel) na cimeira de Bruxelas.
 
Hoje, a Europa, jaz prisioneira de soluções que ultrapassam as condicionantes sancionatórias aplicadas à Rússia impulsionadas por Washington.
Mas o pior estrará para vir e não tardará muito que o regime entretanto instalado em Kiev, sob a batuta de Bruxelas, se apresente no Kremlin à moda do ‘Egas Moniz’, isto é, pedindo desculpas com o baraço ao pescoço, deixando a encavacada e cega estratégia seguida pelas instituições europeias sob a batuta (a reboque) do atual homem da Goldman Sachs (Durão Barroso). 
 
Este é apenas um exemplo. Mas, na verdade, em Bruxelas, não se discutiram situações regionais ou estratégias político-militares globais mas tão-somente a questão da sobrevivência da NATO, após as erráticas ameaças de Donald Trump. A discussão estratégica e relevante em termos políticos sobre o tema da segurança global estava antecipadamente marcada para Helsínquia e seria protagonizada por Trump e Putin.
 
Paira, sob o espectro desta reunião ocorrida em Bruxelas a 11 de julho, a candente dúvida se o aumento das contribuições para uma Organização, nitidamente agonizante, será a resposta necessária e suficiente para evitar o colapso e alterar os planos da actual Administração norte-americana.
Provavelmente, a solução será outra e acabará por questionar a União Europeia sob um prisma que tem sido um tabu: a Defesa.
A Europa deve entender que a NATO é, no presente momento, para Washington, um negócio enredado nos sub-reptícios interesses da indústria de armamento (estes globais) e serve uma estratégia muito concentrada nos interesses norte-americanos, em muitos campos, em claro confronto com as posições europeias.
 
Na atualidade perfilham-se no horizonte profundas e urgentes alterações nos rumos e acordos que vigoraram no pós II Guerra Mundial e que sofreram um 'abanão' com a queda do muro de Berlim. Ninguém – no dito Ocidente - cuidou atempadamente de adaptar-se aos novos tempos, delinear novas visões e traçar outras opções. Manteve-se o status quo até à eleição de Trump dando continuidade a uma política obsoleta que pretendeu colar ad eternum a segurança da Europa aos (caprichosos) 'humores' de Washington.
A persecução da NATO após a queda do muro de Berlim mostra ser, nos dias que correm, uma gritante incongruência e uma aliança agonizante, onde os ‘parceiros’ se digladiam num obscuro antro funerário. Acresce a estas questões uma outra ainda de contornos indefinidos mas antecipadamente dramáticos, isto é, a ‘guerra comercial’ que Trump está apostado em desencadear, à revelia (contra) dos seus 'tradicionais aliados'. 
 
O que a cimeira da NATO de Bruxelas em 2018 revelou foi um novo quadro geopolítico e estratégico. A Europa perdeu o comboio e sente-se arredada dos centros de decisão mundial quer militares, quer económicos, quer financeiros. O ‘Velho Continente’ foi atempadamente advertido desta eventualidade.
Muito do que está ocorre hoje, foi previsto por homem que nunca foi conotado com a Esquerda. Charles De Gaulle defendeu – na altura certa -  que a Europa deveria agregar os países do Atlântico aos Urais. O que na altura foi considerado um 'nacionalismo gaulês bacoco' mostra ter, hoje, uma inaudita pertinência.
Ninguém na altura o ouviu e agora poderá ser demasiado tarde. Dificilmente a UE aparecerá no futuro como uma União de Estados capaz de ter uma capacidade defensiva autónoma, até porque a concomitante ‘guerra comercial’, simultaneamente em curso, visa ajoelhar os europeus aos interesses norte-americanos.
 
Tudo isto a propósito da situação nova que se criou na Europa e atinge Portugal. A atual solução governativa  – é bom recordá-lo – esteve 'empancada' durante algum tempo porque a múmia paralítica que presidia ao País afirmava que uma das condições fundamentais da governabilidade nacional era a fidelidade - dos partidos (PS, BE, PCP e PEV) que concertaram 'posições conjuntas' de entendimento para a governação - à 'sacrossanta' NATO. Isto é, a solução governativa portuguesa deveria estar enfeudada ao que se verifica ser um cadáver anunciado e adiado (a que ele chamou na altura de ‘compromissos internacionais de Portugal no âmbito das organizações de defesa coletiva’). Como o tempo é cruel para os 'reacionários'.
 
É expectável que a Direita portuguesa defenda um maior investimento de Portugal no âmbito da NATO como Trump atabalhoadamente argumentou quando olhou para o problema sob a perspetiva dos negócios.
 
Portugal não pode desligar a cimeira da NATO ocorrida em Bruxelas, a 11 e 12 julho, do encontro bilateral entre Trump e Putin que teve lugar em Helsínquia passados poucos dias.
Pagar para ficar 'ensanduichado' entre os EUA e a Rússia pode ser muito caro e politicamente incomportável por, reconhecidamente, não servir os interesses europeus e nacionais.
Mais do que nunca – e o problema já se arrastada há muito - uma discussão objectiva e racional sobre o interesse presente e futuro da NATO impõe-se no âmbito europeu e, muito particularmente, aos portugueses.
 

Comentários

Como o tempo é cruel para os 'reacionários'.

Excelente!!!

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