Santana Lopes e o seu novo partido «Aliança»

Os sequazes que o seguiram contra Rui Rio, apesar de conhecerem a calamitosa gestão nas autarquias da Figueira da Foz e de Lisboa, no Governo e na Misericórdia de Lisboa, ignoram o seu instinto político e apressam-se a condená-lo na aventura do novo partido.

Convictos de que os partidos políticos são eternos, precipitaram-se no afastamento, para marcarem a fidelidade partidária que vivem com a profundidade ideológica dos adeptos de clubes de futebol. Alguns vão arrepender-se.

Santana Lopes sabe que a deriva liberal e populista, que grassa na Europa, também tem espaço em Portugal. Os liberais do CDS, PSD, até alguns do PS, esperam o líder que ele pode personificar pelo seu perfil, com a dose de populismo e demagogia que tem levado ao poder figuras políticas perturbadoras em vários países europeus.

A Dr.ª Cristas que se cuide. O CDS não poderá mais fingir que é democrata-cristão e ser o albergue de ultraliberais e da extrema-direita. O PSD não pode continuar a reclamar o ideário social-democrata com conduta liberal que vem da oposição ao SNS, agravada no consulado de Passos Coelho, com a conivência de Cavaco. Até no PS, onde um médico se autoproclama líder da ala “socialista liberal”, paradoxo com antena aberta em todos os órgãos reacionários, há quem caiba no espaço que Santana Lopes se propõe ocupar.

Santana Lopes beneficia de notoriedade mediática, experiência política e conivência da comunicação social, que tem veiculado as ideias de que ora é portador. É, aliás, o mais conhecido de todos os que podem repetir em Portugal o êxito de idênticos políticos na Polónia, Áustria, Itália e Hungria, neste último caso, um líder que desrespeita os direitos humanos e demonstra o declínio ético dos partidos conservadores e demo-cristãos que o mantêm no PPE, enquanto o CDS, por motivos menos graves, foi expulso.

Santana Lopes está bastante desacreditado pela ruinosa gestão de tudo o que esteve sob a sua tutela, mas não faltam figuras que, entretanto, a comunicação social criará para lhe suceder. Ao abdicar da herança de Sá Carneiro, que reclamava, não terá mais obstáculos ao nacionalismo agressivo, necessário ao projeto que sempre acalentou.

É mais esperto que Passos Coelho, mais sofisticado que o provinciano Cavaco, e melhor comunicador. O partido liberal beneficia da campanha em curso contra o sector público. Para já, Santana Lopes, baralha as contas a Marcelo, à Dr.ª Cristas e aos inimigos de Rui Rio, mas este e a própria esquerda arriscam-se a beneficiá-lo.

Na declaração de princípios, já definiu a matriz do partido ‘Aliança’: “Personalismo, liberalismo e solidariedade”, percebendo-se que a substância está no meio.

Quanto à oportunidade, mais uma vez revelou instinto político. Não lhe faltarão nomes sonantes de deputados preteridos nas listas de candidatos em lugares elegíveis e autarcas que preferem arriscar a eventual capacidade negocial no novo partido à derrota ou ao ostracismo no atual.

Comentários

e-pá! disse…
É interessante - para não lhe chamar outra coisa - as 'contas' que a Direita faz a este novo partido.
Entre as várias elucubrações há uma que é verdadeiramente espantosa. Alguns meios de comunicação da direita e algumas agências de marketing político afirmam que o novo partido liberal de PSL poderá ir buscar votos ao BE.

Sem querer prever cenários que só os actos eleitorais virão a esclarecer, mas face às propostas programáticas já conhecidas, julgo que as possibilidades desta incrível 'transumância' só será possível na cabeça daqueles que encaram a atividade partidária como um pernicioso jogo perturbador das 'democracias orgânicas' ou que querem definitivamente desacreditar um dos pilares da democracia.

Infelizmente, alguns políticos que ocupam altos cargos públicos não se coíbem de encarar a atividade partidária e todas as opções ideológicas e programáticas que essa opção envolve, como um 'assunto de família'. Definitivamente, sabemos que a família não se escolhe mas ter - ou não - um partido político é uma decisão individual.
Não será isso que o liberalismo político e os consequentes direitos individuais defendem?

Então porque aparecem a tentar descredibilizar os partidos?
Qual a alternativa?
- A extinta 'União Nacional' que parece encaixar-se numa deriva populista de Direita?

Já vimos este filme. Quatro séculos de Estado Novo nasceram, também, de uma metódica descredibilização dos partidos da I República que, reconheça-se, demonstraram alguma irresponsabilidade e incapacidade de prosseguir uma meritória ação pública de acordo com o interesse nacional. Mas a 'democracia orgânica', musculada e ditatorial que substituiu estas pontuais deficiências, cedo fez muitos portugueses terem saudades da atividade partidária e da liberdade de associação política e partidária.

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