Greta Thunberg, as agressões ao Planeta e João Miguel Tavares

Nem todas as evidências têm as causas que se apontam, mas as agressões ao Planeta são a certeza de que só os tolos e os malfeitores duvidam.

Vale a pena ler o que tem escrito a esse respeito o Prof. António Galopim de Carvalho, um sábio, de notável sensibilidade humana e inexcedível espírito pedagógico, e reparar na ternura com que se refere a Greta Thunberg, adolescente com síndrome de Asperger, refletido na obsessão, agressividade e desadequação social que, numa adulta normal, a tornaria inaceitável.

Não se pede um julgamento de carácter de quem, inteligente e obsessivamente dedicada a uma causa, se tornou uma referência mundial na luta contra as agressões ecológicas que ameaçam a sobrevivência humana. É a bondade da causa em que se empenha que está em causa. É a enorme capacidade de irritar que a tornou uma figura planetária ao serviço da mais urgente e assustadora das causas, quando dirigentes políticos de grandes países, manifestam a mais aterradora indiferença e afrontosa insensibilidade.

A forma boçal e indigna como a referiu o adulto pouco recomendável que o PR alugou para os discursos do último 10 de Junho, e as acusações soezes que lhe fez no Público de 26 de setembro p.p., sob o título “O sacrifício de Santa Greta no altar do Deus Verde”, marcam a diferença entre uma adolescente obstinada por uma causa justa e um obstinado brejeiro que acusa o s-g da ONU de “continuar a confundir pateticamente razão e coração” e que “já devia saber distinguir uma retórica totalitária quando a ouve».

O plumitivo rasca considera que as palavras iradas de Greta Thunberg “poderiam estar impressas, sem tirar nem pôr, no manual de um qualquer grupúsculo de extrema-esquerda dos anos 70 que procurava impor as suas ideias à bomba”. J. M. Tavares é um anacronismo da extrema-direita que o Público acoita e o PR contratou para animar o dia em que a ditadura distribuía veneras às mães de filhos mortos na guerra colonial. Ontem, insatisfeito com a prosa de 26 de setembro, coproprietário da última página do Público, escreveu aí «A minha carta para Greta Thunberg», numa prosa onde os ataques à esquerda e o paternalismo insuportável para com a visada definem a sua insanidade e reacionarismo primário.

Perante imbecis de diversas origens e posições, a jovem sueca marca a agenda climática e transmite a noção de emergência à opinião pública mundial, capaz de intimidar os capatazes da poluição e os políticos a quem apenas interessa a próxima eleição.

Os insultos à jovem são provenientes de adultos mais autistas do que ela, quase sempre com menos conhecimentos e mais raiva, e sem o carisma e a eficácia com que ela nos convoca para a tarefa urgente de defender o ar, a água e o solo para os filhos e netos.

Por mais que uivem, ululem e crocitem de raiva os adversários da jovem que tem apenas a palavra e a deficiência como armas, prefiro as suas mensagens, que me interpelam, às diatribes de quem vocifera contra a mensageira em papel impresso.

Obrigado, Greta Thunberg, pela consciência crítica que nos obriga a formar e o remorso que nos faz sentir cada vez que deixamos a luz acesa, usamos o carro, sem precisão, ou devastamos a natureza com pilhas, plásticos, metais pesados e outros poluentes letais.

Marcelo, a preparar cínica e metodicamente a recandidatura, produziu a mais hilariante declaração, não a vai cumprimentar para «evitar aproveitamentos políticos», mas não a ignora.

Comentários

Jaime Santos disse…
Primeiro eles ignoram-te, depois riem-se de ti, depois lutam contra ti e depois tu ganhas.

Greta está neste momento algures entre a segunda e a terceira fase... Nada mau...

Não li o que João Miguel Tavares escreveu, mas basta lembrar a pesporrência e o paternalismo com que Paulo Portas a tratou aqui há tempos na sua rubrica semanal, ele, o facilitador de negócios, para percebermos o que o Carlos Esperança quer dizer.

Agradeço-lhe esta crónica, prova viva que não é a idade física que determina a frescura do pensamento. Há quem creia no futuro, mesmo que já não vá viver nele.

Ainda por cima tratando-se de um ateu! (Desejo-lhe vida longa, bem entendido!)

Outros, jovens ou velhos, não passam de criaturas parvas (pequenas) cheias de azedume e de cinismo, homens cinzentos, apenas preocupados que lhes roubem o seu bocado no aqui e agora.

Porque é que não vão morrer longe? E de preferência depressa...
Manuel Galvão disse…
Sobre este assunto de "emergência climática" há muitas coisas que não entendo. Aí vão duas:
1- sempre que hoje acontece uma catástrofe e ela é atribuída ao desarranjo climático, diz-se a seguir, por exemplo: "são as maiores inundações no rio X desde 1969". Isto significa que há 50 anos ocorreram umas inundações tão graves ou mais graves que as de hoje. Pergunto-me então; será que já havia desarranjo climático em 1965?
2- "Emergência climática", sendo uma emergência, implica uma estratégia de atuação urgente, que a combata. Porém, ativistas, governos, associações ambientalistas, etc., ainda ninguém se chegou à frente a sugerir UMA MEDIDA só que seja, que comece a contrariar já os efeitos nefastos do desarranjo climático.

Parece é que ninguém quer ver o elefante no meio da sala: Quanto custa? Quem paga?

É que, também nesta crise, são os mesmos que a vão pagar...
Manuel Galvão:

Sei que não são consensuais as causas nem os remédios para o aquecimento global. O Professor Galopim de Carvalho tem explicado as várias épocas do Planeta e coloca algumas reticências, mas não tem dúvidas, nem qualquer cientista, do mal que as agressões ecológicas fazem ao Planeta e o risco que já vivemos.

O que lhe vou dizer não prova o que quer que seja, mas é um forte indício: Na ribeira do Noémi, afluente do Coa, e sub-afluente do Douro, eu bebia água em agosto, mergulhando na corrente. Há muitos anos que não leva água fora dos períodos das chuvas.

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