Rui Rio e a Maçonaria

Paulo Mota Pinto, uma referência ética do PSD, incapaz de ver incompatibilidade entre a fiscalização do SIS, a passagem a CEO do BES, não efetuada, e o regresso à função anterior, insinuou que a Maçonaria quer controlar o PSD, no que logo foi secundado por Rui Rio, que viu imediatamente os «interesses obscuros» que querem dominar o partido que o repudia.

Valeu-lhe não ter como adversário Mota Amaral, bem mais honrado do que Mota Pinto, para ser o Opus Dei o acusado da oposição que lhe faz a tralha cavaquista e passista.

Tenho pela Maçonaria uma consideração oposta à que o Opus Dei merece, mas prefiro a competência e a honradez de Mota Amaral à do que Mota Pinto e Rui Rio insinuam que pertence à maçonaria, como se isso fosse crime.

À Maçonaria devemos a Revolução Liberal, a República e leis progressistas: o direito ao divórcio; a separação da Igreja e do Estado; a despenalização da IVG; o direito à saúde reprodutora da mulher e à sua autodeterminação sexual; a Laicidade; a liberdade religiosa; a Revolução Francesa; o sufrágio universal secreto; a Declaração Universal dos Direitos Humanos; o reconhecimento da autodeterminação dos povos; a igualdade de direitos entre homens e mulheres. Enfim, não há leis progressistas que não tenham a colaboração ou não tivessem na origem a participação da Maçonaria. Até a criação do S.N.S. português teve na criação o ilustre maçon António Arnaut que foi Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano.

Do Opus Dei basta referir o pérfido fundador, agora santo Escrivà, apoiante de Franco e cúmplice silencioso do genocídio que, durante décadas, fria e metodicamente o ditador levou a cabo. A ação deletéria nos países sul-americanos, o combate ao divórcio e IVG, a participação em movimentos de extrema-direita, incluído o partido VOX, em Espanha, são apanágio da seita misógina, racista e xenófoba, o que não invalida que haja gente de bem no Opus Dei e biltres, que não são livres-pensadores nem de bons costumes, que tenham entrado na Maçonaria.

A debilidade dos candidatos leva-os a invocar a maçonaria como podiam invocar clubes de futebol ou frequentadores de retiros espirituais de uma qualquer religião. Precisam de um bode expiatório para justificarem o fracasso.

Há diferenças entre Rui Rio, aparentemente sério e capaz, algo desnorteado na Rua de S. Caetano, demasiado a Sul para o homem do Norte, mas sem a demagogia e desatino da oposição interna, órfã de Cavaco e Passos Coelho, agora que a vaidade de Santana Lopes o levou a fazer hara-kiri e a libertar o PSD da sua petulância.

Atribuir à Maçonaria a oposição a Rui Rio é dar importância aos cúmplices de Relvas e Marco António, de Filipe Meneses e Maria Luís, de Cavaco e do grupo do BPN.
 
O estado de decadência a que parece ter chegado o PSD leva-me a crer que a luta é mera questão regional, uma birra de rapazes entre adeptos do Boavista e do FCP.

Comentários

joao pedro disse…

E, Carlos, qual, aqui, o papel das massas populares e seus dirigentes proletários ?

João Pedro
João Pedro:

A terciarização da economia capitalista acabou com os proletários e a luta de classe não passa já por operários e camponeses, mas por pobres e ricos. Penso eu.

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