António Barreto (AB), um neoliberal bem pago e político videirinho
António Barreto, o neoliberal que temia (?) que António Costa perdesse o partido (PS), ao aceitar o apoio parlamentar do PCP e do BE no seu primeiro governo, não desiste da Cruzada a favor da direita neoliberal radical.
AB, sociólogo competente, fotógrafo experiente e ex-empregado de uma mercearia com sede na Holanda, não desiste do combate à esquerda, desde a social-democracia mais à direita até a qualquer forma de socialismo, revolucionário ou não.
Que um político ressabiado use a influência para combater deias que já foram suas, não admira. AB, apesar da formação académica na Suiça, é o provinciano que Mário Soares fez ministro da Agricultura e Pescas, ainda com vergonha de ser de direita e sôfrego de tornar-se o seu ideólogo como, em tempos, quis ser o do PS.
Barreto foi um dos trânsfugas que permitiram a Sá Carneiro ornamentar a AD (Aliança Democrática) com penas de esquerda e nunca mais o abandonou a sedução pela direita. É tão anti-social-democrata como foi anticomunista na passagem por um Governo PS numa pasta onde caiu como Pilatos no Credo, onde os seus despachos eram revogados pelos Tribunais, dado o empenho ideológico com que desafiava as leis então vigentes.
A grande diabrura do ideólogo foi o alvitre de uma nova Constituição para Portugal, que escusasse a democracia representativa, por referendo. A insidiosa proposta foi ignorada, prova de que o País não ensandeceu de todo. Era a reincidência no método salazarista da Constituição de 1933. Só não disse – ficaria para a discussão popular que preconizava –, se as abstenções voltariam a contar como votos a favor.
O antigo membro do PCP na juventude, no exílio, claro, saiu por considerá-lo muito à direita, para aderir ao PS, depois de derrubada a ditadura, de onde viajou para a direita neoliberal, após as tropelias no ministério da Agricultura e Pescas para Mário Soares se reconciliar com os latifundiários.
Foi então o ornamento da AD durante a experiência de Sá
Carneiro para alargar a direita com dissidente do PS para regressar de novo e obter
a reforma vitalícia de deputado, antes de passar ao combate contra a esquerda.
Agora, sempre que a direita está aflita, António Barreto vem em seu socorro e, quanto à coerência, é a Zita Seabra do PS sem a coragem e o sofrimento que implicava pertencer ao PCP, antes do 25 de Abril, em Portugal.
Comentários
Totalmente de acordo com a sua posição sobre o António Barreto (AB)
Na realidade, não sei o que dizer sobre a desonestidade intelectual de AB quando na recente entrevista ao DN (28/03/2025), afirma: “A extrema-esquerda não derrotou, nem derrotará a esquerda democrática. Está a destrui-la por dentro”.
Admitindo que AB se queira referir à esquerda democrática como sinónimo da social-democracia ou socialismo democrático, eu que sempre fui ideologicamente um social-democrata (ou socialista como prefiram, mas não daquela treta social-democrata do PPD/PSD!), tenho que reconhecer que a social-democracia perdeu força política, quando o comunismo deixou de ser ameaçador após a queda do muro de Berlim e do advento da contra-revolução conservadora (neo-liberalismo) dos anos 80.
Fundamentalmente, a perda de influência da social-democracia na governação deveu-se à criação da chamada “Terceira Via”, movimento liderado pelo então primeiro-ministro trabalhista britânico Tony Blair (que conseguiu a adesão de figuras como Bill Clinton, Leonel Jospin, Gerhard Schröder, Massimo D’Alema, Fernando Henrique Cardoso, Ricardo Lago, entre outros governantes e intelectuais ligados de uma forma ou outra à social-democracia europeia, ou ao Partido Democrata dos EUA), e cujo programa visava adequar a social-democracia às novas ideias e políticas neoliberais hegemónicas desde a ascensão do “reaganomics” (Ronald Reagan e Margaret Thatcher).
Tentando uma conciliação entre o capitalismo liberal e a social-democracia – baseada no denominado “centrismo radical” do seu principal Ideólogo Anthony Giddens – o resultado foi uma geleia ideológica, com propostas políticas extremamente vagas e imprecisas, voltadas para a desregulação e desestatização das economias, o aceleramento da desindustrialização e a financeirização da economia, diminuição dos gastos públicos, redução das políticas sociais e reformas laborais ofensivas dos direitos dos trabalhadores, políticas essas que se aproximaram muito mais das ideias de direita (do liberalismo) do que das ideias de esquerda (economia social de mercado).
A social-democracia aceitou o consenso neoliberal, abandonou as classes média e trabalhadora deixando-as à mercê da insegurança social e da extrema-direita (não sendo certamente por acaso que são elas que na Europa ou nos EUA os votantes privilegiados da extrema-direita), tornou-se crescentemente irrelevante e destruiu-se como força progressista na política económico-social.
Não AB, não é a extrema-esquerda que está a destruir a esquerda democrática (social-democracia ou socialismo democrático) – é esta que se tem vindo a destruir por si própria.
Os coveiros da social-democracia (Blair, Schröder, etc.) escondem-se no seu seio!
Cordiais saudações