Do Diário da Diana – 13 anos – escola C+S da Musgueira (6 de março de 2025)

Do Diário da Diana – 13 anos – escola C+S da Musgueira (6 de março de 2025)

O meu pai anda desorientado com as de decisões do Dr. Trump, de que tanto gosta, e da sua política externa, e também não sabe o que dizer do adorado André e do seu querido almirante das vacinas.

A minha mãe anda feliz por prever para breve o fim da guerra na Ucrânia. Não gosta de mortes, de ucranianos ou russos, e não percebe o Costa, de quem gosta muito, e que foi para Bruxelas por causa daquele parágrafo maldoso escrito pela D. Lucília e, pensa a minha mãe, ditado pelo Marcelo.

Ontem, dia de Carnaval, a minha mãe disse-me para ir brincar com os da minha idade e, na sua pitoresca linguagem, disse-me: Diana diverte-te que o Carnaval é curto e longa a Quaresma, e eu preferi estar com a minha mãe do que com miúdos da minha idade, que são imaturos e ainda me parecem crianças.

O meu pai saiu cedo a dizer mal da Uber e dos imigrantes e lá foi com o táxi à procura de clientes. Aproveitei para falar com a mãe que esteve todo o dia em casa. Perguntei-lhe o que era uma avença e ela disse-me que era uma quantia predeterminada, em princípio justa, para pagar mensal ou anualmente serviços prestados ou a prestar.

A seguir fez-me aquele riso de cumplicidade e começou a abrir o livro, que a avença do Montenegro parecia ser a forma de iludir o fisco quando era advogado ou de prestar um serviço à empresa dos casinos, serviço pelo qual continuou a receber depois de ser PM. Foi apanhado por jornalistas e apressou-se a transferir a avença, essa e outras, para a mulher, enquanto os partidos da oposição o enxovalhavam em público. Depois de se ver aflito, incapaz de desistir desse rendimento, decidiu dizer que a empresa que tinha dado à mulher e aos filhos, agora, que já não era dele, a deu afinal só aos filhos.

Tudo lhe correu mal, até os dois apartamentos que comprou em Lisboa na Travessa do Possolo, viraram tragédia. O Professor Cavaco que também lá tem casa tinha posto o país a rir quando construiu clandestinamente duas marquises e o Montenegro pôs o país a perguntar se não havia ali dinheiro não declarado.

Para agravar a tragédia, a empresa de Casinos, que não precisava dos filhos, bastava-lhe o pai, retirou a avença quando, para apagar pistas, passaram a ex-empresa do PM da sua casa de Espinho para o Porto. A Solverde não quis lesar o seu bom nome com a ligação à família Montenegro, neste caso aos filhos, e retirou-lhes a avença.

Mas o mal já estava feito e os partidos da oposição atacaram na AR a idoneidade moral do Montenegro e via-se que o governo tinha os dias contados. Foi aí que o PM, que já tinha no PSD quem o quisesse substituir, encontrou a forma de obrigar o partido e o Marcelo a aceitarem que fosse ele a disputar de novo as eleições.

Eu ainda perguntei se o Marcelo não era amigo do Montenegro, mas a minha mãe disse-me que não, era apenas cúmplice e andava arreliado porque não lhe ligava importância. Até lhe impôs o Procurador Geral da República, sem o consultar, e era obrigado; tinha feito o mesmo com a constituição do Governo, apenas porque sabia que Marcelo punha os nomes dos ministros nos jornais antes de lhe dar posse; e acabou a anunciar a moção de confiança para o encurralar.

Diz que levou escrito o guião, a dizer que a oposição não o deixava governar, que tinha governado muito bem e dado tudo a toda a gente e, aqui a minha mãe disse, que com a folga orçamental e o bom desempenho da economia que herdara. E que preferia ir a eleições do que ter paciência para responder às perguntas a que dizia ter respondido sem nunca responder. Até chamou às eleições um mal necessário.

A minha mãe disse que Montenegro era um jogador exímio, que mostrara ao Marcelo urbano que um rural podia ser melhor do que ele. Olha, Diana, foi Marcelo que lançou o país em crises sucessivas. As três crises políticas escusadas foram provocadas pelo PSD, as duas primeiras por Marcelo e a última por Montenegro.

Agora, com o PSD e Montenegro a tentarem sobreviver e o PS em perigo, com Marcelo fora de jogo, lá vamos para eleições com o almirante a ganhar calado e o André a fazer esquecer que no seu bando há mais delinquentes do que nos outros partidos.

Lá vai o Montenegro a pedir ao Gonçalo da Câmara Pereira para voltar a acompanhá-lo e ao Nuno Melo para poder manter aquele exótico partido com que tomou posse – a AD.

Ui, o meu diário já vai muito longo. Conto mais conversas com a minha mãe noutro dia.

Musgueira, 6 de março de 2025 – Diana



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