Eleições na Madeira
Não nos iludamos, é perigoso não tirarmos ilações das eleições regionais da Madeira e do êxito da narrativa do PSD no condicionamento eleitoral. Há uma leitura nacional obrigatória e um prenúncio local do que vai sucedendo em toda a Europa onde os partidos social-democratas estão hoje mais à direita do que no pós-guerra os partidos conservadores e democrata-cristãos europeus. E a extrema-direita cresce!
Na Madeira, onde a falta de alternância em 49 anos de
democracia secou as oposições, as últimas eleições deixaram o PS agonizante e
sem um único deputado regional à sua esquerda a integrar a faraónica Assembleia
Regional de 47.
Até os partidos extremistas nascidos no seio do PSD, um na
ordem económica e outro fascista, IL e Chega, encontram aí dificuldades de
furar a rede tentacular do PSD-M .
O PSD, que herdou no Continente a melhor situação económica
e financeira que alguma vez aconteceu, encontrou um especialista como líder
provisório que o parágrafo escrito em Belém pela PGR, Lucília Gago, levou a PM
com a conivência do PR.
Facilmente esqueceu que a chegada do PSD ao poder nos Açores
surgiu na sequência da vitória eleitoral relativa do PS que sucumbiu à aliança
com o Chega, aliança saudada pelo sábio professor Cavaco Silva, ideólogo
assumido por Montenegro.
Agora que, na Madeira, o governo tinha caído com uma moção
de censura, que o PS-M apoiou, ao contrário do que sucedeu no Continente,
Montenegro quer fazer crer que é o PS o aliado do Chega que nasceu da
incubadora de Cavaco/Passos Coelho.
Tal como aconteceu com Jorge Sampaio, António Costa e até
com Guterres, acoimado de peixinho vermelho em pia de água benta, Montenegro,
certo da memória curta do país, acusa de radical Pedro Nuno dos Santos.
Montenegro cavalgou, o que é legítimo, a onda de quem só
conseguiu formar o governo regional anterior graças ao Chega, que também o fez
cair e lhe deu a fulgurante vitória
O que é inaceitável é a mentira. É, aliás, a vocação
mitómana que o leva a gritar que o seu governo foi derrubado pelo PS, como se
fosse este o autor da moção de confiança que apresentou para ir a eleições e
explorar o sucesso que herdou.
Enfim, Montenegro é tão dissimulado e sonso a encobrir a culpa das próximas eleições como a receber avenças de uma empresa nebulosa de que recusa dar explicações à AR e ao País.
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