As eleições presidenciais
O cidadão Gouveia e Melo publicou na edição do Expresso de 21 de fevereiro p.p. o seu manifesto de candidatura (mais do que anunciada) à presidência da República.
Se é certo que a esta distância o tema interessa especialmente ao Governo para esconder as fragilidades, e agora o escândalo, a verdade é que não sairá da agenda mediática onde o almirante não será esquecido. Assim, não mais poderá ser ignorado o primeiro esboço do pensamento do candidato melhor colocado nas sondagens.
As minhas reservas sobre o almirante não é por ser militar, muito pelo contrário, é pelo fundado receio de que seja militarista.
Para já, além de banalidades, referiu algumas ideias suas, umas boas e outras originais, onde vi o que Marcelo Caetano disse na tese de doutoramento a Pedro Soares Martinez, “ideias boas que não são originais e ideias originais que não são boas”.
Quanto a banalidades, quer produtividade, inovação, flexibilidade, reduzir a carga fiscal e tornar o Estado mais eficiente. Para quem não governa é como as misses que querem a paz, o bem e a felicidade sem pobrezinhos, sem fome nem doenças.
Quanto ao seu pensamento político, começou logo por dizer, situa-se entre o socialismo e a social-democracia, ou seja, à minha esquerda, o que duvido, sobretudo por não dizer o que entende por tais conceitos, talvez entre o PS e o PSD, onde o próprio PS tem dias, às vezes social-democrata e outras à direita e o PSD finge ser omnívoro, mas cumpre a dieta vegetariana, geralmente neoliberal, às vezes ainda pior, com laivos nacionalistas.
Situar-se ao centro, para fugir à infâmia do Chega, é situar-se em sítio nenhum. O centro é um mero ponto, sem conteúdo ou espaço, um esconderijo com o rabo e o resto de fora.
Perigoso, a avaliar pelo manifesto, é reservar-se o direito de dissolver a AR, das três que enumera, face a “uma perda insanável de confiança do povo no Parlamento e/ou Governo em funções”. É aqui que me assusta, por se outorgar um direito que cabe à AR.
Com as sondagens a mostrarem que os eleitores querem um PR ainda mais interventivo do que o atual, desalmadamente useiro a intrometer-se na esfera do Executivo, ficamos a pensar que, na opinião pública, até o direito a um golpe de Estado lhe conferem.
Preferirei sempre uma personalidade com passado político escrutinado ao longo da vida, já que não sou acompanhado no desejo de que os atuais poderes do PR sejam confiados a alguém eleito por 2/3 dos deputados, o que nos evitaria ter um PR tão pernicioso como Marcelo. E, para isso, é preciso rever previamente a CRP.
Havemos de o ouvir a respeito da Nato e do lugar onde quer que morramos e ao serviço de quem; onde pensa que poderemos cortar para gastar na Defesa e sobre quem jula que são os nossos inimigos.
Hei de voltar ao assunto, e temo que Gouveia e Melo se torne na mais perigosa sequela da Covid-19.
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