Do Diário da Diana – 13 anos – escola C+S da Musgueira (29 de março de 2025)
Ontem jantámos sozinhas, a minha mãe e eu, porque o meu pai foi trabalhar com o táxi do Esteves, a quem chama Dr. Esteves, dono de táxis e patrão de vários taxistas, alguns deles imigrantes, que o meu pai odeia.
Quando a sopa já fumegava na mesa, caiu-nos a notícia de que o Montenegro tinha sido hospitalizado, notícia que nos desgostou, não porque gostemos dele, porque nunca nos alegramos com as doenças de quem quer que seja. Felizmente que, ainda no decurso do telejornal, o vimos a falar com os jornalistas à saída do hospital. Ficámos tranquilas e felizes por ter sido tão bem tratado no SNS que o seu Governo pretende destruir.
Vimos depois um edifício altíssimo a desmoronar-se com o abalo do sismo violento que assolou, sobretudo, a Tailândia e Myanmar, um colosso de betão a implodir como se fosse um castelo de cartas. O sismo provocou certamente milhares de mortos.
A notícia mais importante da política internacional foi a da visita do vice-presidente dos EUA à Gronelândia, provocação de J. D. Vance à Dinamarca, país da UE e da Nato, porque, na opinião do vice de Trump, lhe falta competência para a defesa, o que os EUA farão, ameaçou, a bem ou a mal. Pior do que o disparate de Vance, só o da Comissão Europeia a alvitrar um kit de sobrevivência para três dias numa guerra contra a Rússia.
Ficámos perplexas com a petulância de quem, tendo força, prescinde dos princípios para a ambição expansionista que devora a administração dos EUA. Surpreende a facilidade com que intimida os países da UE e o Reino Unido, e os obriga a engolir em seco. Não há dúvida de que abanam a cauda e acabam por submeter-se.
Esta União Europeia, que a minha mãe tanto enaltece, anda tão entretida em sucessivas reuniões para arranjar dinheiro para comprar armas para a Ucrânia, contra a Rússia, só mostra desunião, enquanto continua convencida de que Zelensky consegue vencer, sem apoio dos EUA, a guerra que já estava a perder com o seu apoio e o da UE!
É o que a minha mãe diz. O direito internacional é o direito criado pelos vencedores no fim de uma guerra para ser alterado na seguinte. É desolador, mas tem razão.
Aliás, é difícil perceber o ódio violento a Putin pela invasão da Ucrânia, que ele justifica pelo avanço da Nato e perseguição aos russos da Ucrânia, quando aceita o genocídio em Gaza e a invasão de países limítrofes por Israel.
É bem verdade que a hipocrisia é o traço dominante das relações internacionais onde os interesses se disfarçam sob a capa da moral.
O dia de ontem foi fértil em notícias políticas:
A Mariana Mortágua pôs na ordem o José Rodrigues dos Santos; não permitiu ao traste fazer-lhe o que fez ao Paulo Raimundo. A minha mãe não gosta do Bloco, mas fica sempre satisfeita quando uma mulher destrata um homem rasteiro. E eu também.
O almirante veio mais uma vez perorar sobre o que deve fazer um presidente. É preciso topete para dizer o que fará se for eleito sem dizer que será candidato. É tão dissimulado como o Moedas e tão sinuoso como o Marcelo.
O Montenegro, que na segunda-feira já regressa à propaganda, depois de se livrar do Gonçalo, cantadeiro do PPM, quis mandar o Nuno Melo aos debates com os partidos mais pequenos em vez de debater também com ele e fingir que o CDS ainda existe.
E foi assim que acabei a agradável conversa com a minha mãe enquanto na televisão se fazia a apologia da guerra e do rearmamento com o entusiasmo com que Moedas manda cortar jacarandás.
Musgueira, 29 de março de 2025 – Diana
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