Montenegro – Crónica de uma Morte Anunciada ou Ir em busca de lã e vir tosquiado.
O governo saído de um golpe palaciano urdido no gabinete do PR, através do parágrafo da PGR, Lucília Gago, chegou ontem ao fim.
O XXIV Governo entrou em funções com os indicadores económicos e sociais em alta e com a folga orçamental destinada ao resto da legislatura que o PR não deixou concluir, e a exiguidade do apoio fê-lo esbanjar os recursos numa campanha eleitoral permanente, à espera da queda e de novas eleições em que responsabilizasse o PS, depois de lhe ter evitado a derrota da eleição do presidente da AR que tinha acordado com o Chega.
Conseguiu aprovar o OE/2025 e resistir a duas moções de censura sob chantagem ao PS e avisado de que nunca lhe aprovaria uma moção de confiança.
Quando os negócios particulares do PM e as avenças foram descobertas por jornalistas, Montenegro recusou dar esclarecimentos, e o PS pediu uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) aos seus negócios nebulosos.
O medo de perder o prestígio alcançado com os recursos herdados fê-lo apresentar a tal moção de confiança para obrigar o PS a fazer o que prometera, responsabilizando-o pela queda do Governo, e impedir o PSD e o PR de substituírem Montenegro, em tempo útil, por alguém mais íntegro. Foi a fuga em frente.
Em plena AR, o Governo andou a negociar a CPI, alheia à sessão, para retirar a moção. Foi assim que a decadência ética do PM arrastou para a lama os ministros habituados às conversas de bastidores, o PSD, ele próprio e o regime democrático, com o PR refém. E os eleitores viram as negociatas que queriam às ocultas tentadas sob as câmaras da TV.
Finalmente, o PR, sucessivamente desconsiderado pelo PM, acabou a fazer-lhe o último e iníquo favor, dissolver a AR sem dar tempo às oposições de escrutinarem os negócios de Luís Montenegro para não lhe retirar a hipótese de ver sufragado o comportamento, como se a vitória eleitoral pudesse absolver a delinquência que há de ser apurada.
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