Albertino de Almeida - Embaixador
Faleceu um Homem.
Albertino de Almeida, primeiro embaixador de Portugal em Moçambique, partiu ontem.
No Ministério dos Negócios Estrangeiros foi ignorado o falecimento do seu mais antigo Embaixador, o primeiro em Moçambique. A dimensão moral e intelectual de Albertino de Almeida não cabe no Palácio das Necessidades.
Não vale a pena falar da mesquinhez de quem não lhe perdoou a honradez e a coragem, nem da ignorância da história do 25 de Abril de quem agora dirige o MNE.
Quando Melo Antunes convidou o magistrado judicial para Embaixador e lhe confiou a embaixada do país acabado de chegar a sua independência foi com espírito de serviço público que Albertino Almeida aceitou o cargo.
Foi amigo de Samora Machel e honrou o cargo de Embaixador. Não chegou a Maputo sem passado. Era o magistrado que arriscara a vida para levar a Justiça ao território da Diamang, a poderosa companhia de diamantes que no seu território exonerara o Direito e os direitos humanos sem respeito pelo Estado graças ao fechar de olhos da ditadura.
Conheci o Albertino no liceu da Guarda, ele no 7.º ano, eu no 1.º. Os acasos da vida e o comum amigo Leal Amado, seu colega de ano e meu de profissão, haviam de criar laços de profunda amizade e, da minha parte, uma enorme dívida de gratidão.
Aprendi muito com ele, com o diplomata, humanista, homem de coragem e cidadão exemplar. O seu livro «Na Linha dos Confins» merece ser reeditado, pelo seu valor literário e documental e pelo que revela do combatente pela Justiça e pela Liberdade.
Sem ele, eu não teria publicado qualquer livro. Foi o único a quem submeti os textos antes de me atrever a deixá-los publicar.
O amigo que ora evoco foi quem suportou Martins da Cruz, então em início de carreira, intriguista que o espiava para o combate político e Samora Machel não suportou.
Martins da Cruz é hoje referido como sendo o primeiro Embaixador em Moçambique sem desmentir a perversa omissão do embaixador com quem serviu sem lhe imitar a dignidade.
O silêncio do ministro Paulo Rangel, com Marcelo na clausura de Belém e Montenegro embaraçado com as avenças que transmitiu aos filhos, revela a ingratidão e pequenez que contrastam com dimensão do Embaixador Albertino de Almeida.
Não houve hipocrisias. Talvez o Rafael, neto que precisou de cuidados médicos e que o avô acompanhou tantas vezes a Coimbra, onde a Oftalmologia é de excelência, o chore inconsolado, saudoso do avô carinhoso, cidadão honrado, democrata, escritor e homem de causas.
A Lurdes talvez não seja viva, os filhos desconhecem este amigo do pai que ora sente amargamente o falecimento do amigo.
Um abraço ao Rafael.
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