Carta do Infante D. Henrique a Marcelo Rebelo de Sousa, 13 de novembro de 2025 e.v.

Senhor Regente do Reino de Portugal, digo, Presidente da República Portuguesa: 

No 565.º aniversário da minha defunção, apesar de os ateus negarem outro mundo para além do que deixei, garanto-lhe que há este onde chegam defuntos todos os dias, que me informam sobre V. Ex.ª, o País e o Mundo até ao último Expresso, espécie de Diário de Bordo, como o dos meus capitães, agora com muito mais mundo e novos mares.

O Sr. Presidente sabe, pela fé, que um morto não tem atividades, projetos ou ambições, só não sabe que gosto de estar informado o que consigo com os novos defuntos. Sei que está a par de tudo o que se passa no Reino, aliás, é artífice de muito, Influenciador-mor. E sei tudo o que aconteceu depois da fatídica data de 5 de outubro de 1910, a data a que o sábio professor Cavaco e Passos Coelho quiseram, e bem, tirar o feriado.

Gostei de saber que Durão Barroso invadiu o Iraque como D. Afonso Henriques invadiu e conquistou terras dos sarracenos, só não conseguiu lá ir, e foi recompensado. Mandou em quase toda a Europa, o que me deixou orgulhoso. Sei que foi pajem de Bush, depois de Merkel, e quis ser PR de Portugal, mas como era detestado, até V. Ex.ª transferiu para Marques Mendes o apoio que lhe dava.

Sei que dou o nome à venera Ordem do Infante D. Henrique, dada a Durão Barroso e Silva Pais por Cavaco Silva, que ainda não está aqui, e que V. Ex.ª a distribui a granel.

Os portugueses que estão em defunção sabem quase tudo o que fiz e o que não fiz. Não houve Escola Náutica de Sagres, uma invenção cristã para denegrir os judeus que me auxiliaram nas descobertas. Por isso não diga, quando vai de férias e passa por Sagres, que esteve no sítio da Escola de Sagres, passou apenas pelo respetivo promontório.

Soube aqui que V. Ex.ª é também comentador-mor. Como o meu pai iniciou a dinastia de Avis, pode iniciar a dos Comentadores apesar de outros o terem precedido, mas sem capacidade para falarem de tudo com tanto brilho.

Os últimos defuntos, uns gostam de si ou não, disseram-me que V. Ex.ª mudou mais o Reino, digo a República, do que a dinastia de Avis o dilatou. Sei que não tem culpa da Revolução de Abril e que é tão anticomunista como eu antimuçulmano e, depois de 48 anos de democracia, decidiu o plano genial para devolver a ordem, respeito e autoridade do tempo do seu pai, que está agora aqui comigo.

O golpe de 7 de novembro, fez dois anos há seis dias, foi de mestre! O parágrafo escrito no Paço de Belém pela Inquisidora-mor do Reino, teve mais efeito do que uma crónica inteira de Fernão Lopes, cronista do Reino desde o rei Fernando até ao meu sobrinho Afonso V,  e escreveu as crónicas de D. Fernando, do meu pai, do meu irmão Pedro e outras. Só me surpreendeu ser mulher a Inquisidora, a nobre função que D. João III, confiaria aos santos dominicanos. Mas valeu a pena!

Esperando conhecê-lo em breve, agradeço o uso desenfreado da venera D. Henrique e defenda os portugueses dos imigrantes e deixe os que o detestam a ranger os dentes.

Saudações do outro mundo.

Condomínio das Almas, 13 de novembro de 2025 e.v. 

a)     Henrique, o navegador.

Apostila – Esta carta com endereço, Paço de Belém, em Lisboa, apareceu hoje na minha caixa do correio, Olivais, em Coimbra, onde um tarefeiro substituiu o carteiro dos CTT depois da privatização de Passos Coelho. Aberta inadvertidamente, apresso-me a torná-la pública por intermédio dos meus leitores.

Comentários

JA disse…
Faz bem ler textos destes.

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